Poesia por Marta Cortezão
Desde o primeiro verso do
poema, há um desejo que se
apresenta e que, em crescente
gradação, vaicolonizandoo corpo, o
mundo material (“o colo”, “os
braços”), e avança pelo espiritual, o
campoabstratodoincognoscível,das
coisas impalpáveis:os“sentimentos”,
as “sementesdelua”, “ainfinita arte
da Ursa Maior”, a divindade, o
sagrado,parafinalizar‘somente’com
os“desejosefeituras/quealimentam
a fome.” Em uma espécie de ritual
sagrado, o corpopercebea dádiva–
as “feituras” divinas – é ela que
alimenta “a fome” do corpo, uma
fome que contém todas as outras
fomesfuturas.Paraalémdarealidade
sensívelestá arevelaçãoinstantânea
do real transcendente, o súbito
improvávelmanifestadopelodivino.
Nesta “colcha de retalhos”
tecidaversoaverso,umacertaânsia
gradativa e desmedida no discurso
poético conduz o eu poemático ao
encontro do desejo que o satisfaz
momentaneamente. Entretanto, é do
itineráriodaviagemqueelerecebea
forçanecessáriaeacertezadodesejo
que procura, é o percurso que o
encaminha ao êxtase final, à
revelação: o (des)encontro do
corpóreo e do incorpóreo
descortinando,aomeuolhar,pegadas
de uma epifania hiperbólica. Mas
sendo o estado de alumbramento
volátil,estecontatocomas“mãosde
deusas estelares” que germina arte,
feituras indizíveis da alma, volta a
cairnocrônico eviciosocírculopela
buscadaverdadeinteriordascoisas.
Afomede“desejosefeituras”,retornaElizabeteNascimento,deCáceres/MT,éDoutoraem
Estudos Literários pela Universidade do Estado de
MatoGrosso/PPGEL-UNEMAT.Autoradelivros,com
participaçãoemdiversascoletâneasliterárias(poesia)
e Membra do Grupo de Pesquisa: Poética
Contemporânea de Autoria Feminina do Norte,
Nordeste e Centro-Oeste do Brasil,
UNIR/UniversidadedeRondônia.