Exame Informática - Portugal - Edição 318 (2021-12)

(Maropa) #1
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Em menos de um ano de atividade,


a start-up portuguesa Smartex.ai permitiu


a poupança de oito milhões de litros de água,


ao detetar defeitos nos têxteis numa fase


precoce do processo de produção.


Argumentos suficientes para convencer


o júri da Web Summit que atribuiu à


empresa nascida na Universidade do Porto


o Prémio Pitch – a melhor entre 650


Tex t o : Sara Sá Fotos: D.R.

F


ilho de um operário da indústria
têxtil, Gilberto Loureiro costuma
dizer que nasceu “no meio dos
trapos”. Ainda antes de entrar para a
universidade, passou horas e horas a
olhar para rolos de tecido, à procura
de defeitos. Uma tarefa exigente que
lhe deu a motivação extra para conti-
nuar a estudar. E também para tomar
consciência do impacto que têm estes
defeitos nos tecidos – que afetam um
a dois por cento da produção – no re-
sultado final. “Em toda a confeção há
uma ineficiência da ordem dos dez por
cento, o que se traduz num preço final
que é 15% mais elevado.”
Deixou as oito horas de inspeção
diária para trás e mergulhou na licen-
ciatura em Física na Universidade do
Porto, sem, no entanto, ter esqueci-
do o problema do desperdício têxtil.
“Já muita coisa foi feita. Mas há ainda
muito espaço para melhoria”, refere.
Só para citar alguns exemplos, num
relatório europeu estima-se que para
produzir uma t-shirt sejam gastos 2700
litros de água e que todos os anos sejam
despejados no oceano meio milhão de
toneladas de microfibras, resultantes
das lavagens de fibras sintéticas, o que
representa 35% dos microplásticos li-
bertados para o ambiente.
Sempre que um pedaço de tecido é
deitado fora por não cumprir os re-
quisitos de qualidade, é energia, água,
pigmento, que vai para o lixo, o que tem
um custo para o ambiente e para a car-
teira dos consumidores. A solução será
então apanhar estes defeitos a montante
e não já no fim do processo de produção,
como ocorre habitualmente. E é isso que
faz a Smartex, a start-up fundada por
Gilberto Loureiro, com dois colegas –
António Rocha e Paulo Ribeiro. Graças
a um sistema que inclui câmaras de ele-

vada resolução, sensores, um algoritmo
de inteligência artificial e um dashboard
de fácil interação é possível eliminar
na totalidade a ocorrência de defeitos,
assegura. A deteção numa fase mui-
to precoce, como a da tecelagem, em
que ocorrem 80% das falhas, permite
interromper imediatamente o processo
de produção e evitar os gastos de água
e de energia das etapas subsequentes.
“Já conseguimos poupar oito milhões
de litros de água e tecido suficiente para
fabricar 300 mil t-shirts”, avança Gil-
berto Loureiro. Números que impres-
sionam e convenceram o júri do Web
Summit, que distinguiu a start-up com
o primeiro lugar, entre 650 candidatos,
no prémio pitch – é a segunda vez que
uma empresa portuguesa vence nesta
categoria, sendo a primeira a Codacy,
na edição de 2014. “Ninguém estava
à espera de um impacto tão grande.
A verdade é que este é um problema
grave que tem estado escondido. E nós
pusemo-lo em evidência”, nota.

SOLUÇÃO À MEDIDA
Em menos de um ano, o sistema está
instalado em três dezenas de clien-
tes, sobretudo na zona norte do país,
embora a empresa já tenha chegado a
mercados como o turco, o italiano e o
brasileiro. “Agora queremos expandir
na Ásia”, avança. Além da informação
sobre os defeitos, a plataforma Smartex
também permite avaliar a qualidade do
fio e saber onde estão a ocorrer as falhas.
Toda esta informação fica guardada e
disponível para consulta do cliente. Em
Vila Nova de Cerveira, está a primeira
fábrica a instalar a plataforma, acaban-
do por funcionar como uma montra dos
serviços prestados. A empresa Tintex,
reconhecida pela grande preocupação
com a sustentabilidade, que levou, por

Colegas e amigos,
António Rocha, Gilberto
Loureiro e Paulo Ribeiro,
fundaram a Smartex em


  1. Hoje já empregam
    30 pessoas, com forte
    tendência para crescer

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