Exame Informática - Portugal - Edição 318 (2021-12)

(Maropa) #1
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/ PORTUGAL FAZ BEM

NADAR COM


GOLFINHOS


(VIRTUAIS) CURA


Terapia digital MindPod mostrou ter efeitos benéficos
na recuperação de AVC. Tecnologia tem por base a projeção
de um cenário marítimo em que o paciente pode ‘mergulhar’
e comandar as brincadeiras de golfinhos
Tex t o : Sara Sá Fotos: D.R.

Q


uem resiste aos saltos e brin-
cadeiras de um golfinho, a na-
dar livremente em águas azuis
tropicais? Quase ninguém. A
partir deste pressuposto, o reputado
cientista e professor da Universida-
de americana Johns Hopkins, John
Krakauer, começou a desenhar um pro-
grama de reabilitação para pessoas com
danos cerebrais, baseado na interação,
virtual, com os sedutores mamíferos.
Num ambiente de liberdade, prazer e
múltiplos estímulos a disponibilidade
para participar e a recuperação do cére-
bro poderiam atingir um novo patamar
que seria refletido em maiores taxas de
recuperação após um AVC, por exemplo.
“Eu já tinha feito muita investigação em
animais nos quais se verificava que isto
era verdade”, explica o cientista à Exame
Informática. Depois de anos de trabalho,
“divertido e complexo”, que envolveu
designers gráficos, animadores, progra-
madores, sob orientação de cientistas e
especialistas em reabilitação, nasceu o
MindPod, um jogo semi-imersivo em
que imagens idílicas de golfinhos fe-
lizes enchem uma parede de 3X3 me-

de terapia digital parece aumentar as
possibilidades de recuperação. “Num
ensaio de pequena escala, verificámos
que o MindPod é duas vezes mais eficaz
para os pacientes do que a reabilitação
convencional”, resume o investigador.
Sendo que, em concreto, a recuperação
esteve centrada nos braços, uma parte
do corpo habitualmente afetada pelos
acidentes vasculares cerebrais.
Nos últimos anos, este tipo de tera-
pias, que envolvem ambientes virtuais
e incluem por vezes óculos, consolas,
ambientes imersivos, tem vindo a ser
cada vez mais utilizada no tratamento
variadíssimas patologias, de origem neu-
rológica, músculo-esquelética ou até psi-
quiátrica. No entanto, não há ainda uma
evidência científica abrangente, nem
sequer condições nos sistemas de saúde,
que permitam a sua adoção em larga
escala nas unidades de saúde. O próprio
John Krakauer assume desconhecer com
rigor a razão por que funciona o Min-
dPod. “Não sabemos exatamente o que
se passa a nível cerebral. É demasiado
complexo para conseguirmos isolar um
só fator”, nota. “Sabemos que a atividade
física é boa para a saúde, mas na verdade
não sabemos exatamente porquê, não
há apenas uma explicação”, continua.

COMPLEMENTO,
NÃO SUBSTITUIÇÃO
Numa avaliação mais subjetiva, supõe-se
que o efeito positivo deste mergulho com
criaturas marítimas seja equivalente a
aprender um desporto novo, que obriga
a interiorizar regras, movimentos, e a
prestar atenção a detalhes na paisagem

Foi depois de um apurado trabalho
em animais de laboratório que o
reputado cientista John Krakauer teve
a ideia de pôr pacientes a interagir,
virtualmente, com golfinhos

tros. Através de um joystick, o paciente
consegue comandar e interagir com os
animais, envolvendo-se nas piruetas e
brincadeiras. Exigindo movimentos de
grande amplitude e tarefas quer a nível
físico, quer a nível cognitivo, esta forma
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