Exame Informática - Portugal - Edição 318 (2021-12)

(Maropa) #1
/ TENDÊNCIAS

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AGARRA QUE É


PROGRAMADOR!


Há poucos profissionais de novas tecnologias para tanta
procura no mercado português e a concorrência por estes
é cada vez mais agressiva. Como alternativa, as empresas
estão a recrutar centenas de estrangeiros. São muitas
as tecnológicas que querem estar em Portugal, mas
o que acontece se não houver mão-de-obra suficiente?

Tex t o : Rui da Rocha Ferreira Fotos: Marcos Borga e Ricardo Castelo/NFACTOS

Foto:


M.B.


A


Atomico é uma das maiores e
mais relevantes empresas de ca-
pital de risco europeias. E nos
últimos anos tem publicado um relatório
extenso, detalhado, sobre o mercado
tecnológico na Europa. No mais recente
disponível antes do fecho desta edição,
relativo a 2020, há um facto que salta
à vista: “Portugal tem a maior taxa de
empregos tecnológicos que são classi-
ficados como difíceis de preencher”,
lê-se no relatório, sendo que 57,6% das
vagas tecnológicas no País recebem esta
classificação. Na Dinamarca, p.ex., ape-
nas 27,9% das vagas para tecnologia são
consideradas como difíceis de preencher
(os dados têm origem na plataforma de
recrutamento Indeed).
E é fácil de perceber porquê. Nos úl-
timos quatro anos, Portugal tem sido o
destino escolhido por diversas tecno-

lógicas – Uber, Cloudflare, Evolution,
Reaktor, Cisco, Colt, Finastra, Quinto
Andar, Mollie, entre muitas, muitas ou-
tras – para a abertura de centros tecnoló-
gicos, muitos com objetivos de recrutar
200 ou mais pessoas num curto período
de tempo. Uma espécie de corrida ao
talento dos profissionais de tecnologia
portugueses, mas que já não existem em
número suficiente para tanta procura.
“[A escassez] É gigante, gigante”, su-
blinha Diogo Oliveira, diretor executivo
da Landing.jobs, empresa que tem uma
plataforma especializada em recruta-
mento tecnológico com mais de 170 mil
profissionais inscritos. “Está a haver no
mundo uma escassez megalómana, mas,
principalmente em Portugal, a escassez
agrava-se”, acrescenta. Também Dinis
Monteiro, fundador do Teamlyzer, por-
tal dedicado à avaliação de empregos

no segmento das tecnologias, fala em
escassez, mas apenas de profissionais
com vários anos de experiência. “Há
clara escassez de perfis seniores. Esta
justifica-se pela concorrência à escala
global cada vez maior para esse tipo de
profissionais. A crescente adesão ao tra-
balho remoto também veio aumentar a
concorrência pelos mesmos”, diz, em
respostas enviadas por e-mail.
Apesar desta realidade, isso não tem
impedido várias empresas de anuncia-
rem novos investimentos ou o aumento
das equipas que já têm em Portugal. A
Axians anunciou em abril a intenção de
contratar 200 profissionais. A Claranet
Portugal também anunciou em maio
a contratação de 200 pessoas. E mais
recentemente, em outubro, a Critical Te-
chWorks anunciou a contratação de 500
pessoas, a concretizar num ano. Como é
isto possível num mercado onde parece
haver pouca oferta? Fomos conhecer as
‘trincheiras’ de quem anda nesta ‘guerra’
pelos programadores.

NÃO HÁ? VAI-SE FORA
“É claríssimo que existe uma grande
falta de profissionais de tecnologias de
informação”, começa por dizer Catarina
Graça, diretora de recursos humanos da
Claranet Portugal. A concorrência por

Diogo Oliveira, CEO da Landing.
jobs, revela que há muitos
programadores brasileiros e
nigerianos interessados em
trabalhar em Portugal
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