Exame Informática - Portugal - Edição 318 (2021-12)

(Maropa) #1
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R.C.

estes profissionais é “muito agressiva”,
segundo a responsável, o que tem levado
a empresa a procurar novas estratégias
de aquisição de profissionais. “Temos
um programa de referências interno. Os
nossos colaboradores podem referenciar
pessoas que conhecem e temos um pré-
mio associado a isso, é uma das fontes
que acaba por ter sucesso”, exemplificou.
A Claranet Portugal também já começou
a contratar profissionais estrangeiros, so-
bretudo no Brasil, para colmatar a falta de
mão-de-obra que há no País. E o trabalho
remoto, que se popularizou com a pan-
demia, trouxe uma nova dinâmica, com
vantagens e desvantagens, ao mercado
de recrutamento – da mesma forma que
as empresas portuguesas podem recru-
tar profissionais estrangeiros, empresas
estrangeiras também vieram atrás dos
profissionais portugueses. “Deixamos de
estar num contexto que era meramente
nacional, competíamos com as empresas
que estavam cá, e começamos a competir
com empresas a nível internacional”,
destaca a responsável.
A Axians é outra das empresas que tem
olhado para profissionais estrangeiros
como uma forma de continuar a crescer
em Portugal. “Estamos a viver esta es-
cassez de talento como nunca vivemos
antes”, diz Fernando Rodrigues, diretor
da tecnológica. Desde o início do ano e
até ao final de outubro, a empresa con-
tratou, ainda assim, 405 pessoas, tendo
outras 250 vagas por preencher. E dos
contratados, 172 são de 26 nacionalidades
estrangeiras. Uns a trabalhar a partir dos
seus países de origem, outros já a viverem
em Portugal. “A tendência é para que se
reforce [o trabalho remoto], os clientes
encaram isso melhor, também tínhamos
aqui alguns dogmas, mas foram todos
quebrados”, confidencia o porta-voz
da Axians.
A Critical TechWorks (CTW), a empre-
sa conjunta entre a portuguesa Critical
Software e a alemã BMW, tem sido das
mais ambiciosas. Nascida em 2018, já
emprega 1400 pessoas e quer mais 500
até ao final de 2022. Uma percentagem
significativa – 13% – já são estrangeiros
a viver em Portugal, o que aliado aos
programas de reconversão profissional
e ao maior número de vagas em cur-
sos tecnológicos nas universidades tem
permitido à empresa dar vazão a tama-
nhas ambições de recrutamento. “Não
vamos só buscar pessoas que são super
completas e aptas, temos que balancear
em função das pessoas que estão à nossa


disposição e aquilo que também pre-
cisamos de fazer”, revela Pedro Vieira
da Silva, diretor de tecnologia da CTW.

SALÁRIOS A SUBIR
Uma consequência direta desta corrida
aos programadores é a subida da média
salarial – a Landing.jobs fala num cres-
cimento de 20% ao longo de 2021 e a
Teamlyzer revela um aumento de 14,5%
–, algo que tem obrigado as empresas
portuguesas a abrir os bolsos. “Põe mais
pressão nos salários em Portugal, os ser-
viços ficarão mais caros, mas o mercado
ajustar-se-á”, sublinha Fernando Ro-
drigues. Já Pedro Vieira da Silva lembra
que “se fazemos engenharia tão boa ou
melhor do que noutras áreas do mundo,
é natural que os nossos valores salariais
comecem a aumentar”.
Por fim, a outra grande questão: po-
demos chegar a um ponto de rutura em
que se perdem investimentos devido à
agressividade do mercado de recruta-
mento? Dinis Monteiro lembra alguns
exemplos que já aconteceram. “No final
de 2019, a Swvl disse que ia contratar 150
pessoas em Portugal. No entanto, passa-
dos seis meses, liquidou o escritório e até
ao dia de hoje não tem colaboradores em
Portugal. Outros casos idênticos são o da
Monese, Zalando ou Wodify”, recorda.
Por seu lado, Diogo Oliveira lembra que
pode haver uma crise de “expectativas”.

“Se de repente [as empresas] veem que é
mais difícil encontrar alguém em Portu-
gal do que noutro país, então começam
a investir noutro país”, detalha. Mas o
que tem acontecido maioritariamente,
segundo o CEO da Landing.jobs, é uma
mudança de planos. “As empresas aca-
bam, ao fim dos primeiros três meses,
por corrigir em baixa os seus objetivos.
(...) As 200 pessoas rapidamente passam
a 50, então os 200 não são para o primeiro
ano, são para o segundo. Tipicamente é
realista para um período de dois anos”.
Mas a maioria dos especialistas ouvidos
pela Exame Informática concorda com a
ideia de que o mercado vai responder,
de forma orgânica, à grande procura por
programadores e outros profissionais.
Iniciativas de reconversão profissional
(ver Exame Informática nº 300), mais va-
gas nas universidades e formação interna
nas empresas deverão dar resposta para
os próximos tempos, como defende Dinis
Monteiro: “Penso que não irá haver falta
significativa de programadores juniores
ao ritmo que estão a ser ‘formados’”.
Mas se o mercado continuar escasso,
terão de ser as empresas a adaptar-se,
como explica Fernando Rodrigues. “Pode
acontecer que essa seca [de programado-
res] nos impeça de concretizar todos os
projetos. Se existir a escassez absoluta, a
escolha de cada projeto terá de ser mais
racional”. „

Pedro Vieira da Silva, da CTW,
diz não imaginar um cenário de
rutura em que “de repente não
há ninguém” para contratar
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