Exame - Portugal - Edição 452 (2021-12)

(Maropa) #1

Micro



  1. EXAME. DEZEMBRO 2021


dinheiro. É um mercado de ‘high risk – high
reward’”, descreve o CEO.
Uma das formas de gerar rendimentos
para sustentar a investigação nestas empre-
sas é, além dos mercados financeiros, de-
senvolver negócios em paralelo na mesma
área da saúde. No caso da Pasithea, o ca-
minho escolhido foi a criação, nos Estados
Unidos e em Inglaterra, de subsidiárias vo-
cacionadas para a administração de queta-
mina, um anestésico genérico que se tem
mostrado eficaz no tratamento de doenças
mentais. Este serviço – exigente, dispendio-
so para os pacientes e não comparticipado



  • é prestado em parceria com a Zen Heal-
    thcare (que tem três clínicas no centro de
    Londres) e com a rede de cuidados norte-
    -americana I.V. Doc.
    Recorrer a estas estruturas preexistentes
    permitiu pôr rapidamente os pés no mer-
    cado, com reduzidos capitais fixos. A meta
    é ter ainda este ano dez pontos de ativida-
    de nos EUA – em Nova Iorque (Manhattan),
    Califórnia, Flórida, Texas, Illinois, Nevada e
    Arizona –, estendendo depois a presença a
    regiões como o Canadá, a Europa e o Mé-
    dio Oriente.


MÁXIMOS E COVID19 FACILITARAM
ACESSO AOS MERCADOS


Da criação da empresa à entrada em bol-
sa (no mercado Nasdaq, que conta mais
de três mil empresas) passou apenas ano
e meio. Antes disso, duas rondas iniciais
de financiamento permitiram, segundo o
responsável, levantar cerca de dois milhões
de dólares para arrancar a atividade, criar
as primeiras redes de parcerias e suportar a
entrada em bolsa. Esta demorou nove me-
ses a concretizar e resultou na dispersão de
25% do capital – a maioria ainda continua
na mão dos fundadores e investidores ini-
ciais. “Não há tantas empresas numa fase
tão embrionária a conseguir levantar di-
nheiro”, sustenta Tiago Reis Marques. Foi o
timing, com um mercado muito líquido e
em máximos, que decidiu o sucesso da ope-
ração. Embora prontos a fazer o IPO a partir
de finais de julho, esperaram por uma me-
lhor conjuntura em setembro. “Queríamos
ter capital suficiente para, além de desen-
volver o nosso fármaco, prosseguir com um
desenvolvimento mais abrangente, alargar
o portefólio.”
As condições de mercado e do setor (o


índice de biotecnológicas do Nasdaq dispa-
rou 63% nos últimos cinco anos) conjuga-
ram-se com o interesse crescente dos in-
vestidores por soluções na área da saúde
mental: “Temos vindo a assistir a uma autên-
tica epidemia de doenças mentais. Podemos
culpar tudo e mais alguma coisa – do Insta-
gram às dificuldades económicas, ao mundo
competitivo, à redução do estigma em falar
destas doenças. Mas a ausência de boas op-
ções terapêuticas e o número muito grande
de casos desencadeados pela Covid-19 au-
mentaram a necessidade de fazermos algu-
ma coisa por estes doentes.” Ainda antes da
epidemia, a Organização Mundial da Saúde
estimava que o impacto económico da de-
pressão e da ansiedade na produtividade a
nível mundial rondava um bilião de dólares.
Já o Fórum Económico Mundial antecipa que
o custo com doenças do foro mental e suas
consequências mais do que duplique em 20
anos, até 2030, para seis biliões de dólares.
Tiago, que ao longo da carreira foi recu-
sando convites para a grande indústria far-
macêutica, sempre viu a intervenção direta
na criação de um medicamento como uma
possibilidade. O “salto” da investigação para
a gestão diária da empresa, sem um perfil
de gestão, foi “desafiante”, reconhece, mas
também justificável. “Colocar um gestor nes-
ta fase do campeonato à frente de uma em-
presa não tem muita lógica, porque as deci-
sões que têm de ser tomadas são, acima de
tudo, científicas. É uma fase que não gera
cash-flow, que não precisa de uma gestão
financeira diária. O mais importante é ro-
dear-se de pessoas que compreendem esses
assuntos.”
Dependendo das necessidades de cres-
cimento e do retorno financeiro das parce-
rias clínicas, o responsável antevê que possa
ser preciso estudar novas soluções de finan-
ciamento em bolsa até ao final de 2023. Até
para suportar os planos “ambiciosos”, que
incluem a participação em movimentos de
fusão e aquisição, incluindo Portugal. “Talvez
o País sofra de alguma incapacidade de cha-
mar a atenção, de estar aos olhos dos investi-
dores. Espero ajudar a conseguir [que seja de
outra forma]. Vamos olhar, estrategicamen-
te, para qual a melhor forma de melhorar ou
alargar o nosso portefólio”, diz o CEO. “Vai
depender do que existe no mercado. Não te-
mos nada identificado, mas não fechamos a
porta a nada.” E

$ 24


M
Financiamento
Valor levantado pela Pasithea
Therapeutics em setembro passado,
na entrada em bolsa

7


Anos
Tempo médio que demora a chegar
ao mercado um medicamento como
o que a empresa quer desenvolver

2022


Registo
Dentro de oito a nove meses, a Pasithea
Therapeutics espera fazer o pedido
da patente da sua primeira molécula

QUEDA “ESPERADA”
Ação da Pasithea perde 31%
nos primeiros dois meses em bolsa
O CEO, Tiago Reis Marques, considera
o movimento “normal” em empresas
ainda sem lucro ou produto: “Nenhum
investidor ficou surpreendido. Esperamos
conseguir que a ação recupere e reflita
o que estamos a fazer”

Fonte: Yahoo! Finance; Valores em dólares

15 / 09 / 2021 15 / 11 / 2021

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