Exame - Portugal - Edição 452 (2021-12)

(Maropa) #1

Micro


50. EXAME. DEZEMBRO 2021

Texto Margarida Vaqueiro Lopes
Fotografia Luís Barra

GESTÃO

G rl


Talk


Garantir a sobrevivência
de uma empresa familiar exige,
além da profissionalização
óbvia da gestão, que as várias
gerações saibam “dançar uma
espécie de tango”. As reflexões
de Leonor Freitas e Gracinha
Viterbo – que continuaram
e fizeram crescer o legado
de gerações anteriores

DEBATE. REFLEXÃO

U


ma representa a quarta
geração de uma empre-
sa agrícola, que há mais
de 100 anos se dedica à
produção de vinho e que
transformou numa referência da região
de Setúbal e do País. A outra é a segunda
geração de um atelier de design de inte-
riores que ganhou mundo nas suas mãos.
Leonor Freitas, CEO da Casa Ermelinda
Freitas, e Gracinha Viterbo, Diretora Cria-
tiva e Partner da Viterbo Interior Design,
garantem que uma empresa familiar pode
ter tanto sucesso quanto outra qualquer,
desde que as pessoas não tenham medo
de aprender com quem mais sabe e te-
nham o sentido de responsabilidade pro-
fundamente apurado. Porque pegar numa
empresa que foi construída por outros e
que se espera que sobreviva nas gerações
seguintes é muito mais do que apenas um
trabalho: é a garantia de um legado que
se quer para sempre. E foi precisamente
sobre sucessão que conversaram, numa
altura em que Gracinha continua o tra-

balho da mãe e Leonor se prepara para
entregar o seu à filha.
“Há muito o perigo de as empresas fa-
miliares desaparecerem se tiverem medo
de se abrir a quem quer ajudar”, subli-
nha Leonor Freitas durante a conversa que
aconteceu, como habitualmente, no Hotel
Martinhal Chiado, parceiro da Girl Talk. A
responsável pela Casa Ermelinda Freitas sa-
lienta o exemplo que recebeu das gerações
anteriores e admite que foi por amor que
voltou à vida rural, apesar de os pais lhe te-
rem dado outras opções. “A vida rural sem-
pre foi difícil, e a família quis outra vida para
mim. Mas eu volto por amor, porque acho
que a infância me marcou para o resto da
vida. O amor e o que eles me transmitiam
fez com que eu viesse com toda a força.”
Sem experiência ou formação em Gestão – é
licenciada em Serviço Social –, arregaçou as
mangas e conquistou a pulso o respeito de

trabalhadores e fornecedores, numa altura
em que todos achavam que não tinha jeito
para o negócio. Dos pais herdou a proximi-
dade com os colaboradores e a capacidade
de trabalho, bem como os princípios que,
garante, ainda hoje lhe iluminam o cami-
nho: fidelidade, qualidade e responsabili-
dade. E que, espera, passem para a quinta
geração, que se prepara para assumir as ré-
deas da casa agrícola.
“A mentoria entra em força e de uma
forma muito positiva nas empresas de fa-
mília e passa de geração em geração. Há
tanto para ensinar e para aprender”, apro-
veita para acrescentar Gracinha Viterbo. A
designer, que herdou e fez crescer o lega-
do da mãe, Graça Viterbo, acredita que um
dos segredos do sucesso de uma empre-
sa familiar é precisamente a ligação com
a geração anterior, associada a muita li-
berdade e igual dose de responsabilidade.
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