Exame - Portugal - Edição 452 (2021-12)

(Maropa) #1
DEZEMBRO 2021. EXAME. 57

gestores públicos e passámos a ser geridos
por cervejeiros”, justifica.
São os colombianos que convidam
Nuno Pinto da Magalhães a assumir a di-
reção de comunicação, o cargo que ocu-
pou durante mais tempo na Central de
Cervejas. “Eles queriam que a comunica-
ção externa fosse feita por um português
e eu assumi a figura de porta-voz da com-
panhia”, recorda. Neste período, ajudou
a negociar o acordo com a seleção nacio-
nal de futebol, patrocínio que se mantém
desde 1993. “Somos o primeiro e o mais
antigo patrocinador da seleção nacional.
Fui com a Bavária negociar com o Joa-
quim Oliveira [dono da Olivesdesportos]
que geria esses direitos”, conta.
Apesar de não ser fã de futebol e a
sua veia desportiva se inclinar mais para
o râguebi, admite que este foi um dos me-

lhores contratos de patrocínio que se fez
porque a “Seleção representa o melhor
de todos nós. É agregadora, são os nos-
sos melhores atletas a representar as cores
do País, numa modalidade que junta, no
mesmo palco, todas as classes sociais, a
lutar por um País”.
Foi também com a Bavária que teve
a oportunidade de mudar radicalmente
a forma como se distribuía a cerveja em
Portugal. Por cá, o sistema ainda era mui-
to rudimentar e, quando chegaram, os co-
lombianos quiseram instalar as chamadas
pré-vendas, ou seja, encomendas prévias
antes de os carros de distribuição se des-
locarem aos locais, método que não só
melhora toda a logística, como permite
economias de escala.
“Como eles eram representantes da
Budweiser quiseram que eu conhecesse
a realidade de dois mercados distintos.
Fui para Los Angeles, onde existia um dos
mais sofisticados sistemas de distribuição,
e mais tarde para Medellin, num período
muito complicado em que tínhamos de fa-
lar com os donos das lojas através de gra-
des por causa da segurança”, conta. Um
conhecimento que acabou por se tornar
essencial para levar a cabo essa mudança
em Portugal, que começaria no Porto.

O PODER DA DIPLOMACIA
Quem o conhece fala de Nuno Pinto de
Magalhães como um homem afável e bas-
tante cortês, capaz de aproximar diferentes
opiniões. Características que desenvolveu
desde muito novo. Em pleno período pós-
-revolucionário, com a Central de Cerve-
jas extremamente politizada e com célu-
las partidárias instaladas no seu interior,
Nuno Pinto de Magalhães foi eleito dele-
gado sindical. “Houve um grupo de pes-
soas que achou que eu tinha o perfil para
concorrer e acabei por ser eleito”, lembra.
Posteriormente, forma, juntamente com
Nascimento Rodrigues, que mais tarde vi-
ria a ser provedor de Justiça, a única co-
missão de trabalhadores que não era ligada
ao Partido Comunista.
“Foi uma experiência riquíssima. Um
período em que foi necessário marcar posi-
ção. Fomos ouvidos e respeitados. Na vida é
muito importante consensualizar. Encon-
trar pontes e, por vezes, ceder para ganhar.
Foi uma aprendizagem muito importante

Aprendi


com todas as


pessoas com


quem trabalhei.


Com umas


aprendi o que


não se deve


fazer, mas


aprendi


Nuno Pinto de Magalhães

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