Micro
- EXAME. DEZEMBRO 2021
para a minha função como negociador e
gestor”, garante.
A sua veia diplomática também lhe foi
bastante útil quando, ainda nos Recursos
Humanos, teve de fechar uma fábrica de
refrigerantes no Catujal. “Atiraram-me às
feras. Estávamos em 1978, era um perío-
do complicadíssimo”, recorda. Aceitou a
tarefa e falou com todos os trabalhadores,
um a um. “A operação foi um sucesso, em
boa parte graças à experiência que tive na
atividade sindical.”
Fora da Central de Cervejas, gosta de
uma boa conversa, é um apaixonado por
arte e colecionador de retratos antigos. É
também fora da cervejeira, mas com ati-
vidades ligadas a ela, que mantém vários
cargos em instituições e organizações na-
cionais. É presidente da Auto Regulação
Publicitária, em representação dos anun-
ciantes, órgão que junta ainda as agências
de publicidade e os órgãos de comunicação
social. Foi o primeiro português a presidir
à Câmara de Comércio Portugal Holanda.
Presidiu ao Grupo Desportivo de Vialonga
e foi Grão-Mestre da Confraria da Cerveja,
um órgão que reúne todo o setor cervejeiro.
O GRANDE DESAFIO
Passou por verdadeiros tumultos internos
na empresa, desde contestações à gestão,
processos de despedimento e encerramen-
to de fábricas, até mudanças de práticas
muito enraizadas numa grande empresa,
mas, para Pinto Magalhães, nenhum caso
foi tão complicado nestes 47 anos como a
crise da legionela na zona de Vila Franca,
em novembro de 2014, da qual resultaram
403 infetados e 12 mortes. “Tenho facilida-
de em esquecer-me das coisas más, mas
esta marcou-me profundamente”, revela.
Numa primeira fase, a unidade fabril
de Vialonga esteve incluída entre os princi-
pais suspeitos de contaminação. Nuno Pin-
to de Magalhães esteve na linha da frente
da gestão desta crise. “As análises, para se
determinar a origem do surto, demoravam
e havia pessoas a morrer. Felizmente, aca-
bámos por ser excluídos como potenciais
contaminadores, mas posso dizer que esse
foi o momento mais difícil em todos estes
anos na empresa. Morreram pessoas. Foi
tudo vivido de uma forma muito emoci-
onal”, recorda.
Agora, chegado a um dos cargos mais
altos da empresa, o de presidente do con-
selho de administração, Nuno Pinto de
Magalhães, apesar de não exercer funções
executivas, diz que a sua missão é “poder
continuar a apoiar a companhia e as pes-
soas para tudo aquilo que precisem, parti-
lhando o meu conhecimento do setor e da
empresa. Colocar os meus conhecimentos
ao serviço e à disposição dos mais novos é o
meu grande desafio neste final de carreira”.
Questionado se já fez um exercício
íntimo de se imaginar fora da Central de
Cervejas, Nuno Pinto de Magalhães, hoje
com 65 anos, responde prontamente: “De-
vido à pandemia, fui para casa em março
de 2020, e mantenho funções à distância.
Creio que foi uma boa forma de adapta-
ção à mudança. Mas é difícil imaginar-me
fora do contexto. Nas minhas veias circula
a Central de Cervejas. É a minha vida.” E
Passagem de testemunho
Nuno Pinto de Magalhães é, desde
1 de julho, presidente do conselho
de administração da Central de Cervejas