Exame - Portugal - Edição 452 (2021-12)

(Maropa) #1
DEZEMBRO 2021. EXAME. 81

nês alcançou, este ano, um estatuto e uma
concentração de poder que já não se ob-
servava num líder chinês desde Mao Tsé-
-Tung, com vários sinais de uma postura
mais agressiva em relação a Hong Kong
e Taiwan. Uma afirmação que coincide
com uma saída da crise que consolida a
posição da China como motor do mundo,
de onde virá um em cada cinco euros de
riqueza produzida. A possível mudança
no equilíbrio de forças entre EUA e China
poderá ser uma das principais diferenças
do pré para o pós-pandemia. Uma ascen-
são que, na segunda metade do ano, foi
ameaçada pela crise da megaimobiliária
Evergrande, cujo desfecho e consequên-
cias ainda não são totalmente conhecidas.
Ainda no campo da política interna-
cional, 2021 ficará marcado pela despe-
dida e por um reencontro: Angela Merkel


abandonou a liderança do governo ale-
mão, após 16 anos como chanceler; Mario
Draghi, ex-presidente do BCE, regressou
à ribalta, ao assumir o cargo de primeiro-
-ministro italiano num executivo dito de
“unidade nacional”.

NOVA RELAÇÃO COM OS MERCADOS
O ano não foi menos agitado na área dos
mercados financeiros. Logo nos primeiros
meses, o caso GameStop marcou a atu-
alidade económica durante vários dias,
com milhares de pequenos investidores
a fazerem disparar uma retalhista de vi-
deojogos, arrastando consigo hedge funds
gigantes que apostavam na decadência da
empresa. Toda a gente passou a saber o
que era o fórum r/wallstreetbets, no Red-
dit, onde estes investidores se encontram
e combinam estratégias conjuntas.

A retoma foi
prejudicada por
uma crise logística
e de transporte
muito penalizadora
para o comércio
internacional, com
longos atrasos,
escassez de certos
bens e uma subida
de preços

A ERA DO STREAMING
E A MORTE DO CINEMA

A pandemia provocou uma transição forçada das salas de cinema
para os sofás das nossas casas. Será que a mudança é estrutural?

> SALAS VAZIAS

Para o cinema, 2020 foi o ano das
estreias adiadas, salas fechadas e
colapso das receitas. 2021 trouxe um
início de recuperação, mas também
da oficialização de uma mudança de
paradigma. A Warner decidiu que, este
ano, os seus filmes teriam estreia si-
multânea nas salas e na sua paltafor-
ma HBO Max. A Universal já tinha re-
duzido a “janela de exibição” (o tempo
que um filme está em exclusivo nos
cinemas), no que a IndieWire disse ser
a maior mudança na distribuição de
filmes desde o lançamento de Jaws,
em 1975. Decisões que foram vistas
como um agitar de bandeira branca.
Realizadores como Christopher Nolan
e Denis Villeneuve mostraram-se
ofendidos, as empresas que gerem
salas de cinema desesperaram e as
agências de talento reclamaram con-
tra uma solução que pode prejudicar
os seus bónus.

> DOMÍNIO DAS PLATAFORMAS

A decadência dos cinemas é paralela
à contínua ascensão das platafor-
mas de streaming. Um espaço ainda
dominado pela Netflix, mas em que
a concorrência é cada vez mais feroz.
Embora não seja garantido que a em-
presa consiga manter o tamanho da
sua fatia, tendo em conta a ameaça da
Disney, Amazon, HBO e Apple, a ver-
dade é que a tarte ainda não parou de
crescer. Isso é o que também explica o
gigantesco aquecimento do negócio,
com aquisições e fusões por valores
milionários, da compra da MGM pela
Amazon por sete mil milhões de
euros à megafusão de 35 mil milhões
de euros entre a Warner/HBO e a
Discovery. Além do lado financeiro,
estas plataformas ganham cada vez
mais reconhecimento, ocupando um
espaço central na cultura pop (veja-se
Squid Game) e recebendo cada vez
mais prémios, dos Emmys aos Oscars.
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