Macro
- EXAME. DEZEMBRO 2021
Havia um tsunâmi contido de investi-
mento que se libertou com os desconfi-
namentos?
O pipeline de 2021 não assenta todo no
adiamento do de 2020, algum manteve-se.
Atingimos valores que ninguém esperava.
Em 2015, quando começámos a apresen-
tar o nosso pitch aos investidores no ta-
lento, as pessoas não acreditavam que nós
íamos convencê-los. E eu explicava que o
talento é o principal fator diferenciador.
Hoje, já ninguém discute isto.
Mas também está associado a um au-
mento de benefícios fiscais atribuídos,
que triplicou em média face ao QREN.
O fundamental não é isso. Usámos o porte-
fólio de incentivos de forma mais alargada.
Houve mais negociação de benefícios fis-
cais versus o quadro anterior, mas não há
um aumento proporcional nos benefícios
financeiros. Transformámos um mecanis-
mo de incentivo. Em muitos casos de ex-
pansão, aproveitámos o facto de as empre-
sas já estarem cá a gerar muito lucro, e isso
potenciava o seu investimento em Portugal.
Esses incentivos fiscais já existiam.
Mas foram, em algum momento, o fator
decisivo?
Há uma combinação. Alguma empresa veio
para cá só por causa desses incentivos? Não.
Mas são determinantes para a decisão final,
e tenho perfeita noção da concorrência de
outros países na Europa. É uma compo-
nente-chave na negociação e na atrativi-
dade, mas não é a única. A taxa de quebra
no pipeline, de 2019 a 2021, foi muito se-
melhante a outros anos, e temos ainda dois
meses de negociações para terminar e com
muitos contratos em vista. Já temos pipeli-
ne para 2022, com um comportamento re-
lativamente normal. Vemos aparecer mais
atividades do setor dos serviços, o que está
manifestamente ganho e não surge nas es-
tatísticas do contratualizado.
Que ferramentas faltam face à concor-
rência?
Não podemos partir do pressuposto de que
não estamos a ter resultados absolutamente
excecionais. Mas há três fatores fundamen-
tais a manter: a aposta na formação de talen-
to altamente qualificado e a adaptabilidade
a novas necessidades setoriais e industriais
que vão surgindo; manter o portefólio de in-
centivos que funciona bem e é considerado
dos mais competitivos da Europa, no I&DT,
e garantir, na próxima década, que continu-
amos com uma vantagem competitiva nas
condições para fazer negócios.
E para 2022, o que está em calha em ter-
mos de investimento?
É importante olhar para o pipeline para
além da contratualização, já que a larguís-
sima maioria dos centros de serviços que
se instala em Portugal não contratualiza in-
centivos. Temos, para o próximo ano, uma
proporção forte de serviços e de centros de
competências ligados a software a entrar,
até com alguns projetos de I&DT muitíssi-
mo interessantes, competitivos e inovado-
res, que representam uns €100, €200 mi-
lhões que podem ser contratualizados. Está
a ser angariado algum investimento indus-
trial, de mais €200 a €300 milhões, muito
diversificado. E temos todo o pipeline do
PRR que também é muito relevante.
De que forma os investimentos para as
transições verde e digital estão a ser pon-
derados no apoio da AICEP aos investi-
mentos?
A matriz de concessão de incentivos está
definida. A transição energética e até al-
gumas implementações de digitalização,
como a indústria 4.0, já são valorizadas.
Conseguimos tornar-nos percecionados
como um País sustentável e com muito
acesso a energia renovável. Alguns seto-
res industriais já procuram estar em pa-
íses com proporção de energia maiorita-
riamente renovável, pois é uma exigência
dos clientes finais. Em setores tradicio-
nais, como o têxtil ou o calçado, a preocu-
pação permanente com a sustentabilidade
já existe e é fundamental para acederem
a alguns mercados do Norte da Europa.
Investimentos cada vez mais tecnológicos
requerem postos de trabalho ainda mais
qualificados. Não corremos o risco de tra-
zer investimento e depois não termos for-
ça laboral suficientemente especializada?
Somos considerados o terceiro país da Eu-
ropa com maior disponibilidade de enge-
nheiros em proporção da população, com-
petimos diretamente com a Alemanha.
Temos, todos os anos, no sistema universi-
tário, um crescimento de alunos, incluindo
internacionais que eu espero que queiram
€1 233
Milhões
Montante em investimento contratado
nos primeiros dez meses de 2021
2 615
Postos de trabalho
Até outubro, o investimento contratuali-
zado criou três vezes mais emprego do
que em 2020. Os contratos assinados
no último ano de pré-pandemia, 2019,
trouxeram 6 567 postos de trabalho
INVESTIMENTO RECORDE
Contratualizado com AICEP (via PT 2020)
Máximos coincidem com reta final dos fundos
comunitários e alívio da pandemia
Fonte: AICEP; valores em milhões de euros;
*dados até outubro
EXPORTAÇÕES SOBEM
Avanço de 4,8% face a jan-set de 2019
Comparado com o mesmo período de 2020,
marcado pela Covid-19, o aumento foi de 20,1%
Fonte: INE, exportações de bens; valores em
milhares de milhões de euros; *dados até
setembro
2015
2015
2016
2016
2017
2017
2018
2018
2019
2019
2020
2020
2021*
2021*
60
50
40
30
20
10
0
1 500
1 200
900
600
300
0