Play Station - Edição 258 (2019-07)

(Antfer) #1

50


REVIEW


A


desenvolvedora polonesa
Bloober Team cada vez mais
crava suas garras afiadas no
gênero terror. Pouco tempo depois
da chegada do primeiro Layers of
Fear, em 2016, tivemos Observer,
mostrando a versatilidade do estúdio
em transitar por subgêneros e
temáticas: de um gênio louco da
pintura do final do século 19 para um
detetive de ficção científica. Quando
Layers of Fear 2 foi anunciado,
confesso ter ficado decepcionado,
pois as possibilidades pareciam
infinitas quanto a novas propriedades
intelectuais. Mas quando a temática
do jogo foi revelada – o cinema –,
a ansiedade voltou a me dominar.
Layers of Fear 2 comete um erro
clássico logo de cara, pois assume a
bagagem de sua audiência, como se
os interessados no jogo também se
interessassem por cinema mudo,
cinema preto e branco e, indo mais
longe ainda, movimentos como o
Expressionismo Alemão e gênios
específicos do cinema, como George
Méliès ou Luis Buñuel. Jogar com
ou sem essa bagagem resulta em
experiências absurdamente distintas,
mas cabe a cada um julgar se
conhecer ou não todas as referências
torna o jogo mais envolvente.
Como um ator contratado para
atuar num filme dito revolucionário,
embarcamos no luxuoso transatlântico
Icarus. Delírio, realidade, pesadelo e
sonho se misturam entre cenografias,
objetos de cena, manequins de
posicionamento, equipamentos de luz,
câmeras e tudo o mais que pode ser
encontrado em um set de filmagem.
Assim como no primeiro Layers of
Fear, a continuação dá uma aula de
direção de cena, onde PB se torna
sépia, loucura se mistura com o
processo criativo do ator e o meio
físico do jogo se transforma no
abstrato da mente do personagem.
Acontece que jogar Layers of Fear 2
pode ser uma experiência igualmente
frustrante e marcante. Há sequências
de perseguição medíocres, repletas
de tentativa e erro – um recurso já

saturado no gênero desde Amnesia:
Dark Descent –, mas há também
intervenções geniais, como quando
interagimos com a projeção de um
filme quadro a quadro para seguir
em frente. As sequências que
homenageiam obras como Viagem à
Lua e Metrópolis, por exemplo, são
inesquecíveis – frustrantes enquanto
videogame como mídia interativa, mas
inesquecíveis mesmo assim. Layers
of Fear 2 fica em algum lugar entre
Gone Home e What Remains of Edith
Finch, e eu acho ótimo que exista um
público interessado nisso.
No que tange a videogame comum,
há colecionáveis posicionados para
estimular exploração e expandir
o universo de jogo, como pôsteres
de filmes, slides, artigos de jornal
e cartas. Os bizarros diálogos entre
uma garotinha e seu irmão mais
novo, disparados de forma mecânica
conforme o jogo progride, confundem
o personagem e quem joga – seria
o meu próprio passado, o do diretor,
ou seriam clandestinos a bordo?
Como em um filme de David Lynch,

tudo é interpretativo. Ou seria o
diretor desse novo e revolucionário
filme (dublado pelo ator Tony Todd, o
eterno Candyman) o criador de toda
uma linguagem cinematográfica, na
qual ele assume onipresença para
conduzir momentos importantes em
que o protagonista – ou seja, você –
pode obedecer ou não? Que tipo de
loucura maligna pode surgir da mente
de um gênio contrariado?
O que torna Layers of Fear 2
especial aos olhos dos amantes de
terror e cinema pode não ter apelo
algum para alguém que só quer se
divertir com um bom jogo. Esse
debate, levantado propositadamente
pela Bloober Team, é bastante válido.
Só espero que eles continuem
trilhando esse caminho, tão
assustador quanto maravilhoso.

FICHA



  • PS4

  • TERROR

  • BLOOBER TEAM,
    GUN MEDIA

  • PORTUGUÊS
    (TEXTO)

  • MÍDIA DIGITAL


SÉTIMA ARTE MAKSON LIMA

ASSIM COMO NO PRIMEIRO


JOGO, A CONTINUAÇÃO DÁ UMA


AULA DE DIREÇÃO DE CENA


VEREDITO
A experiência de jogo depende
muito do seu conhecimento sobre
cinema, mas, de forma geral, a
continuação não tem o mesmo
impacto do primeiro jogo.

6
LAYERS OF FEAR 2

Luz, câmera, ação! Uma desfigurada viagem ao cinema fantástico


Conhecer ou não todas as
referências do jogo cria
experiências distintas
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