— Muito bem — respondeu Sabrina exasperada, mas não disse mais nada.
No fim de tudo, teve que mandar chamar um electricista, uma empresa para mandar
enxugar e limpar as alcatifas e os tapetes e um pintor para consertar os estragos. Annie
estava furiosa com a irmã e também consigo mesma. Foram precisos mais dois incidentes
para Annie concordar em, pelo menos, ponderar na hipótese de ir para uma escola em
Setembro, para aprender a enfrentar a sua vida de uma maneira construtiva, agora que
estava cega. Até lá, iria fingir para si mesma que se tratava de uma situação temporária e
que conseguiria muito bem desembaraçar-se sozinha. Não podia. Isso era mais do que
óbvio para todos, e a raiva que Annie demonstrava pela família era bastante desgastante.
Já não conseguiam reconhecê-la. Nem sequer permitia que Sabrina ou Candy a ajudassem
a pentear ou a escovar o cabelo e na segunda semana que passou em casa, cortou o
cabelo sozinha. Os resultados foram desastrosos; Sabrina foi dar com Annie sentada no
chão do seu quarto, a soluçar, com o seu longo cabelo ruivo espalhado no chão à volta
dela. Parecia que Annie tinha sido atacada por uma serra eléctrica. Quando Sabrina a viu,
pôs os braços à volta da irmã e choraram ambas.
— Está certo — disse Annie, por fim, apoiando a cabeça no ombro da irmã — está certo...
não consigo fazer isto... detesto ser cega... eu vou para a escola... mas não quero um cão.
— Não és obrigada a ter um cão.
Todavia, era mais do que evidente que Annie precisava de ajuda. Só de vê-la no estado
mental em que se encontrava também deprimia o pai. Sentia-se impotente quando via a
filha tropeçar e cair, entornar o café em cima da mão ao tentar encher a chávena, ou
espalhar a comida como uma criança de dois anos.
— Não podes fazer nada para ajudá-la? — perguntou ele a Sabrina com uma expressão
infeliz.
— Estou a tentar — respondeu Sabrina, fazendo o possível para não gritar com o pai.
Sabrina telefonava a Tammy cinco a seis vezes por dia, e esta andava a sentir-se culpada
por ter partido e ainda não conseguira arranjar ninguém para substituir a estrela grávida
da série. A vida dela também era uma roda-viva e sentia-se como se estivesse a
desapontar a família por estar em LA. De uma forma ou de outra, todos eles se sentiam
infelizes e Annie mais do que todos.
Por fim, deixou Candy arranjar-lhe o cabelo. Sentia-se demasiado embaraçada para ir ao
cabeleireiro da mãe para que eles o arranjassem. Não queria que vissem que ela estava
cega, com o cabelo que parecia que tinha sido cortado por uma catana. Usara a tesoura
do escritório e o aspecto era pavoroso. O seu cabelo fora outrora lindo, sedoso e
comprido, muito parecido com o de Candy, apenas mais comprido e de uma cor
castanho-avermelhada em vez de louro.
— Muito bem, temos um novo penteado a caminho — disse Candy, sentando-se no chão
com Annie, no dia seguinte a ela ter cortado o cabelo.
Até então, Annie ficou com ar de quem tinha acabado de sair da cadeia. O cabelo estava
todo espetado, algumas partes estavam curtas, outras um pouco mais compridas e todo
ele estava uma porcaria.
— Eu sou mesmo boa nisto, não te preocupes — tranquilizou-a Candy. — Estou sempre a
arranjar o cabelo às outras pessoas depois das sessões fotográficas, quando algum
cabeleireiro neurótico e psicopata faz alguma coisa que lixa o cabelo todo de uma modelo,
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1