desapontado nem houvesse mal-entendidos entre ambos, mais tarde. As épocas festivas
eram momentos sagrados para todos eles.
Charlie ficara algo aborrecido e, em vez de esperar mais uma semana para ir a Pompeia
com ela, disse que iria fazer a viagem com outro artista amigo seu. Annie ficou
desapontada por não ir com ele, mas decidiu não dizer nada para não causar uma
discussão. Pelo menos, assim, ele sempre teria alguma coisa para fazer enquanto ela
estivesse ausente. Tivera há pouco tempo uma quebra no rendimento do seu trabalho e
estava a debater-se por arranjar algumas técnicas e ideias novas. Por agora, as coisas não
iam muito bem, apesar de Annie ter a certeza de que ele não tardaria em arranjar uma
solução. Charlie era um artista bastante talentoso, apesar de um artista mais velho, que o
aconselhara em Florença, lhe ter dito que a pureza do seu trabalho fora corrompida pelo
tempo que ele passara enquanto estilista. O artista mais velho achava que havia uma
qualidade comercial no trabalho dele, que precisava de ser desfeita. Os seus comentários
magoaram Charlie de uma maneira bem profunda, tendo ficado sem falar com o seu
autodesignado crítico durante semanas. Charlie era extremamente sensível em relação à
sua arte, tal como o eram muitos artistas. Annie mostrava-se mais aberta às críticas e
recebia-as com agrado para, desse modo, poder melhorar o seu trabalho. A semelhança
da sua irmã Candy, havia uma modéstia surpreendente no seu carácter e na pessoa que
era. Annie não possuía artifícios nem malícia e era surpreendentemente humilde no que
tocava ao seu trabalho.
Há meses que andava a tentar que Candy a visitasse e entre as suas viagens a Paris e a
Milão, houvera inúmeras oportunidades, mas Florença estava fora do caminho habitual de
Candy e o ambiente de Annie entre artistas famintos não fazia o seu género. Nos
intervalos entre os seus trabalhos, Candy adorava ir a lugares como Londres e St. Tropez.
O cenário artístico de Annie em Florença estava a anos-luz da vida de Candy e o contrário
também. Annie não tinha vontade de voar até Paris para ir ao encontro da irmã, nem de
ficar em hotéis sofisticados e luxuosos como o Ritz. Sentia-se muito mais feliz a deambular
pelas ruas de Florença, comendo gelados, ou deslocando-se à Galeria Uffizi pela milésima
vez com as suas sandálias e a saia rústica. Preferia isso a ter de aperaltar-se ou usar
maquilhagem ou saltos altos, tal como fazia toda a gente no mundo de Candy. Annie não
gostava das pessoas superficiais com que Candy se dava. Candy dizia sempre que parecia
que os amigos de Annie estavam todos a precisar de um bom banho. As duas irmãs viviam
em mundos totalmente distintos.
— Quando vais partir de novo? — perguntou-lhe Charlie, quando Annie chegou a casa.
Annie prometera cozinhar-lhe um jantar na noite anterior à sua partida, depois das aulas.
Comprou massa fresca, tomates e legumes e tencionava preparar um molho de que ouvira
falar. Charlie trouxe uma garrafa de Chianti e serviu-lhe um copo enquanto ela cozinhava,
ao mesmo tempo que a admirava do outro lado da sala. Annie era uma rapariga bonita,
completamente natural e despretensiosa. Para qualquer pessoa que a conhecesse, parecia
ser uma rapariga simples, quando na verdade era muitíssimo instruída no seu ramo,
altamente informada e oriunda de uma família que há muito Charlie supunha ser de
posses, embora Annie nunca mencionasse as vantagens e os privilégios que tivera na
juventude e continuava a ter. Annie levava uma vida tranquila de artista trabalhadora. O
único indício que denotava as suas raízes no seio de uma classe social elevada era o
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1