CAPÍTULO 17
O primeiro dia de Annie na Parker School para Invisuais foi um desastre. Ou, pelo menos,
a primeira parte do dia foi catastrófica. Gostara da sugestão de Tammy, transmitida por
Sabrina, e apanhara um táxi para a escola, que se situava em West Village, um bairro
animado nos dias de hoje, mas muito longe do sítio onde moravam. O trânsito era sempre
um caos para se conseguir lá chegar e Annie chegou atrasada logo no primeiro dia. Levara
a bengala consigo e insistiu em dizer que sabia usá-la. Recusou-se a deixar que Sabrina a
levasse à escola, como se fosse uma criança de cinco anos.
— Vivi em Itália e não falava a língua quando lá cheguei. Posso muito bem
desenvencilhar-me em Nova Iorque sem ver — declarou Annie com soberba, mas deixara
que a irmã lhe chamasse um táxi.
Annie deu a morada ao motorista e Sabrina ficou com o coração na boca ao ver o carro
afastar-se. Resistiu ao impulso de ligar para o telemóvel de Annie para avisá-la para ter
cuidado. De repente ficou em pânico de que o motorista pudesse raptar Annie ou violá-la,
porque ela era jovem, bonita e cega. Sabrina sentiu um aperto na boca do estômago,
preocupada com Annie, quando voltou a entrar em casa.
Sabrina partilhou os seus receios com Candy, que lhe disse que ela era maluca. Candy
voltara finalmente ao trabalho nessa semana e partiria para Milão no dia seguinte, para
fazer uma sessão fotográfica para a Harper's Bazaar. Havia roupas e malas espalhadas por
todo o lado. Annie tropeçara em duas delas à saída. Sabrina voltou a avisar Candy para
não criar obstáculos nem entraves à irmã, de modo a ela poder deslocar-se livremente. E
mal acabou de lhe dizer estas palavras, Sabrina tropeçou na cadela de Candy e caiu.
— Esta casa parece um manicómio — disse Sabrina, ao subir as escadas para acabar de se
vestir.
Estava atrasada para o emprego e tinha de ir ao tribunal nessa tarde, por causa de uma
moção para anular um caso desagradável de divórcio que nem sequer queria ter aceitado.
No entanto, só conseguia pensar em Annie enquanto vestia a saia ao mesmo tempo que
calçava os seus sapatos de salto alto.
Mais tarde, Sabrina ficou a saber por Annie que esta chegara à escola, depois de pagar o
táxi. Saiu do carro, desdobrou a sua bengala como lhe haviam ensinado, esticou-a e
tropeçou no mesmo instante numa berma de passeio invulgarmente alta e esfolou os dois
joelhos através dos seus jeans. Annie rasgara as calças e era capaz de sentir o sangue a
escorrer-lhe pelas pernas. Era um começo pouco auspicioso, para dizer o mínimo.
Um guarda que estava à porta da escola avançou para ajudar Annie enquanto esta entrava
na escola. Levou-a até ao gabinete, pôs-lhe, ele mesmo, pensos rápidos nos joelhos e em
seguida conduziu-a ao piso superior para ela se orientar. Indicou-lhe a direcção certa e
Annie perdeu-se de imediato e foi parar a uma aula de educação sexual para alunos
avançados, onde estavam a ensinar os alunos a pôr preservativos em bananas e, à medida
que escutava, Annie percebeu que se tinha enganado na sala. Perguntaram-lhe se ela
havia trazido preservativos consigo e Annie respondeu que não fazia ideia de que iria
precisar deles logo no primeiro dia de aulas, mas prometeu trazer alguns no dia seguinte.
Depois de uma onda de gargalhadas varrer a sala de aulas, outra pessoa conduziu-a ao
lugar certo, mas toda a gente da sua turma já saíra da sala para fazer uma visita guiada à