Danielle Steel - As Irmãs PT

O rapaz parecia ser jovem e tão nervoso como Annie se sentia.
— Acho que sim — respondeu Annie a medo, pois a voz era de homem.
— Então o que te traz aqui?
— Pesquisa para um livro — respondeu Annie em tom brusco.
— Oh — exclamou o rapaz, parecendo desapontado. — Eu sou cego.
De repente, Annie arrependeu-se do que dissera.
— Eu também sou — disse ela com mais simpatia. — O meu nome é Annie. E tu, como te
chamas?
Annie sentia-se como se fossem duas crianças que se conheciam no recreio, trocando
impressões sobre o primeiro dia de aulas.
— Chamo-me Baxter. A minha mãe achou que eu deveria frequentar esta escola. Deve
odiar-me. Mas, então, o que te trouxe até aqui?
— Um acidente de carro em Julho.
Havia algo de íntimo acerca da escuridão em que eles viviam, como se estivessem num
confessionário. Era mais fácil falar das coisas quando ela não podia ver a cara dele, nem
ele a dela.
— Sofri um acidente de mota em Junho, ia com um amigo. Antes disso era designer
gráfico. Por isso, agora, palpita-me
A que vou vender lápis num copo na rua. Não há grandes saídas profissionais para
designers cegos — disse ele, parecendo meio trágico e meio divertido.
Contudo, Annie gostou dele. O rapaz tinha uma voz simpática e amistosa.
— Eu sou... era pintora. Tenho o mesmo problema. Vivia em Florença.
— Lá, em Florença, conduzem como se fossem lunáticos. Não é de admirar que tivesses
tido um acidente.
— O acidente ocorreu aqui, no dia Quatro de Julho. Annie não lhe contou sobre a mãe.
Teria sido de mais,
mesmo na sua escuridão compartilhada. Era-lhe impossível falar sobre isso. Talvez mais
tarde, se viessem realmente a tornar-se amigos. Mas foi bom ter alguém com quem
conversar no primeiro dia.
— A propósito, eu sou gay — disse o rapaz de repente, assim do nada.
Annie sorriu.
— Eu não. O meu namorado deu-me com os pés, pouco depois do acidente. Mas ele não
sabia que eu fiquei cega.
— Que grande canalha.
— Pois é, acho que sim.
— Quantos anos tens?
— Vinte e seis.
— Eu tenho vinte e três. Formei-me no ano passado. Que escola é que frequentaste?
— Risdy — respondeu Annie, que era o nome de código entre os entendidos para a Rhode
Island School of Design. -— Depois de me licenciar, frequentei a Ecole des Beaux Arts em
Paris e fiz ali o mestrado. E desde então tenho estudado em Florença. Toda essa educação
primorosa que temos não nos vai servir de nada agora. Risdy, Yale e agora isto, para
podermos aprender a usar o microondas e a lavar os dentes. Estatelei-me de cara no chão
esta manhã à porta da escola, a sair de um táxi — declarou Annie e, de repente, nada