Não sabia muito bem como fazê-lo, mas estava disposta a trabalhar nessa ideia.
— O nosso público não quer seriedade. Já sofrem demasiado nas suas vidas pessoais.
Querem ver pessoas a desancarem-se, verbalmente, é claro, não fisicamente, da maneira
que desejariam fazer com os seus companheiros, se tivessem coragem para isso. Nós
somos o alter ego dessas pessoas e temos a coragem que elas não têm.
Não deixava de ser uma maneira de ver a coisa, apesar de Tammy não concordar muito
com ela. Contudo, não iriam contratá-la para reescrever o programa, ou para melhorá-lo,
apenas para mantê-lo no ar e fazer subir mais ainda as audiências, se ela fosse capaz
disso. Esse era sempre o ponto fulcral de qualquer programa de televisão. Como podemos
aumentar os níveis de audiência? O que eles queriam era mais do mesmo género.
— A propósito, o que a trouxe a Nova Iorque? Abandonou um programa magnífico.
Tammy pareceu-lhe detectar um tom de censura na forma como ele disse aquilo e abanou
a cabeça.
— Eu não abandonei o programa — corrigiu-o Tammy. — Dei o meu aviso prévio e saí.
Houve uma tragédia na minha família este Verão e eu quis ficar aqui — respondeu ela com
uma dignidade tranquila e o produtor abanou a cabeça.
— Sinto muito em saber isso. Já está tudo resolvido? — perguntou o homem com uma
certa preocupação.
— As coisas vão indo melhores. Mas pretendo ficar aqui por agora para controlar a
situação.
— Vai ter tempo para trabalhar no programa?
— Vou, sim — respondeu Tammy com confiança e o produtor pareceu aliviado.
Tammy era uma profissional até à alma e ele sabia que não teria vindo conversar consigo
se não estivesse interessada no emprego. O produtor esperava que sim. Já sabia que a
queria a trabalhar ali. Não iria entrevistar mais ninguém e disse-lhe isso mesmo.
Entregou-lhe várias cassetes do programa e pediu-lhe que pensasse no assunto e lhe
desse uma resposta. Não queriam estragar algo que funcionava. E o produtor queria que
Tammy também respeitasse isso.
— Dou-lhe uma resposta dentro de alguns dias — prometeu Tammy.
Queria ver as cassetes do programa. Tammy encontrou-se com a psicóloga à saída. Nem
conseguia acreditar no aspecto da mulher. Extravagante era uma palavra demasiado
suave. Ela usava óculos com aros a imitar diamantes e um vestido justíssimo sobre uns
seios enormes que quase lhe saltavam do vestido. Parecia a dona de um mau bordel, mas
o produtor afirmava que o público e os casais a adoravam. Chamava-se Désirée Lafayette,
que não podia, de maneira nenhuma, ser o seu nome verdadeiro. Para Tammy, ela
assemelhava-se a um transexual, e perguntou a si mesma se o não seria de facto. Nada a
surpreenderia neste programa. Muito menos uma psicóloga que em tempos fora um
homem.
Tammy voltou para casa e pôs a primeira fita a passar no televisor. Estava a vê-la com
toda a atenção, quando Annie regressou da escola. Ficou de pé no escritório por um
minuto a ouvir o que Tammy estava a ver e exibiu um largo sorriso.
— Que diabo é isso?
— Um programa que estou a analisar — respondeu Tammy, ainda concentrada no casal
que estava no ecrã.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1