Eram inconcebíveis e tinham acabado de chamar um ao outro todos os nomes possíveis e
imaginários.
— Não estás a falar a sério, espero eu.
— Penso que sim. Quanto mais não seja só para me rir um bocado. Como foi a escola?
— Foi tudo bem.
Annie nunca dizia que fora "Óptima", mas pelo menos não dizia que era horrível e as
irmãs desconfiavam que ela gostava da escola. Tammy olhou de relance para o relógio.
Tinha de levar a irmã à psiquiatra e lembrou-lho, caso Annie quisesse comer alguma coisa
antes de saírem.
— Tenho vinte e seis anos, não tenho dois anos de idade. Posso ir de táxi, se quiseres
continuar a ver essa porcaria.
— Posso ver mais tarde — respondeu Tammy e apagou o televisor.
Todavia, já tomara uma decisão. Era péssimo, mas que se lixe, porque não? Désirée
Lafayette era demasiado ridícula para expressar por palavras. Contudo, o programa tinha
qualquer coisa, uma espécie de miserabilismo baixo e sórdido e, no entanto, por detrás de
um véu, ainda havia um fio de esperança. Tammy gostava disso. Parecia que era raro
dizerem às pessoas para renunciarem às suas relações, e Désirée tentava dar-lhes ideias
sobre como melhorá-las, ainda que estas fossem algo absurdas e as pessoas que iam ao
programa serem incrivelmente ordinárias. Não havia nele nada de dignificante.
— Deves estar desesperada para arranjar emprego — comentou Annie quando saíram de
casa.
— Penso que estou mesmo — admitiu Tammy. Tammy pensou sobre isso enquanto
esperava por Annie
no consultório da Dra. Steinberg. As consultas de Annie com a psiquiatra pareciam estar a
fazer-lhe muito bem. Annie aparentava aceitar melhor a sua situação do que no princípio
e estava visivelmente menos agressiva. Além disso, Tammy gostava de pensar que o facto
de estar rodeada pelas irmãs, que a amavam com tanto ardor, também estava a fazer-lhe
bem.
Tammy viu o resto das cassetes sozinha no seu quarto nessa noite. Algumas eram
melhores, outras eram piores. Neste momento, já tinha uma boa percepção do programa.
Iria parecer inusitado no seu currículo, em especial depois dos outros programas onde
havia trabalhado, que eram de elevada qualidade. No entanto, era o único emprego
disponível na cidade. Já telefonara a todas as pessoas que conhecia e ninguém precisava
de uma produtora neste momento. E Tammy também não tinha mais nada para fazer.
Telefonou a Irving Solomon na manhã seguinte e disse-lhe que estava interessada no
emprego. Mencionou umas cifras e informou-o de que a sua agente entraria em contacto
com ele. Teria que telefonar-lhe para LA e também ao seu advogado. Iria ter um trabalhão
para explicar-lhes a razão por que aceitara produzir aquele programa. Tammy tinha uma
cláusula de "não concorrência" no seu último contrato, em vigor por mais um ano, mas
não havia nada neste programa louco que pudesse competir com o último que produzira.
Não tinha dúvidas sobre isso. O salário que o produtor lhe propusera era razoável. E era
um trabalho honesto, mesmo que fosse num programa nojento. E trabalho é trabalho.
Tammy não era pessoa para ficar ociosa e passar a vida a fazer compras ou a almoçar com
as amigas. Não tinha amigas em Nova Iorque e as irmãs estavam todas ocupadas.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1