CAPÍTULO 3
O dia de Tammy em Los Angeles foi absolutamente louco. Já estava à secretária às oito
horas dessa manhã, tentando deixar tudo pronto antes da sua partida. O programa que
produzia há três anos estava interrompido para as férias do Verão, mas ela já andava
atarefada com a organização da próxima temporada. A estrela da estação anunciara que
estava grávida de gémeos na semana anterior. O seu principal protagonista masculino fora
preso por posse de drogas e o caso tinha sido abafado. Haviam despedido dois dos actores
no final da última temporada, os quais ainda precisavam de ser substituídos. Verificava-se
uma ameaça de greve por parte dos técnicos de som, que poderia atrasar o início da sua
próxima temporada e um dos patrocinadores ameaçava abandoná-los e financiar outro
programa. A sua secretária estava repleta de mensagens de advogados sobre contratos e
de agentes que respondiam aos seus telefonemas. Tinha milhares de problemas para
resolver e todos eles faziam parte da complicada logística relativa à produção de um
programa televisivo de sucesso em horário nobre.
Tammy licenciara-se em comunicação e televisão na UCLA e ficara em Los Angeles depois
disso como produtora executiva assistente de um programa de sucesso há muito tempo.
Trabalhara em dois programas depois disso; efectuara um breve estágio num reality show,
que ela detestou; e trabalhara num programa que promovia encontros e namoros. Nos
últimos três anos produziu Doctors, uma série sobre a actividade de quatro mulheres
médicas, que tinha sido o programa número um em audiências nas duas últimas
temporadas. Tammy nunca fez mais nada na vida a não ser trabalhar. O seu mais recente
relacionamento terminara há quase dois anos. Desde então, namorou com dois homens
que odiara. Tammy achava que não tinha tempo para conhecer mais ninguém, nem a
energia para ir a algum lado quando finalmente saía do escritório à noite. A sua melhor
amiga era Juanita, uma chihuahua anã com cerca de um quilo e quatrocentos, que ficava a
dormir debaixo da sua secretária enquanto Tammy trabalhava.
Tammy ia fazer trinta anos em Setembro e as suas irmãs metiam-se com ela, dizendo que
ficaria solteirona. É muito provável que tivessem razão. Aos vinte e nove anos de idade,
não tinha tempo para namorar, para conhecer homens, para arranjar o cabelo, para ler
revistas, ou para ir a qualquer lado aos fins-de-semana. Esse era o preço que estava
disposta a pagar por criar e produzir um programa televisivo de sucesso. Venceram dois
Emmys pelas duas últimas temporadas. Os seus níveis de audiência batiam todos os
recordes. A estação e os patrocinadores adoravam-nos, mas ela sabia melhor do que
ninguém que isso só se manteria assim desde que as audiências continuassem nos
píncaros. Qualquer alteração para descer, atirá-los-ia para o esquecimento. Os programas
de sucesso passavam do topo das audiências para o desastre mais depressa do que o
diabo esfrega um olho. Em especial, agora, com a sua estrela principal grávida e obrigada
a ficar de repouso na cama. Seria um grande desafio a ultrapassar e Tammy não sabia
como iria fazê-lo. Ainda. Sabia que acabaria por resolver os problemas, como sempre
fazia. Era um génio a tirar coelhos da cartola e a solucionar o aparentemente impossível.
Por volta das dez e meia dessa manhã, Tammy já havia respondido a todos os
telefonemas, falado com quatro agentes, respondido a todos os seus e-mails e entregado
à sua assistente uma pilha de cartas para dactilografar. Precisava de as assinar antes de