Danielle Steel - As Irmãs PT

(Carla ScalaEjcveS) #1

Houve um silêncio do outro lado da linha. Charlie começou finalmente a perceber, à
medida que Sabrina prosseguia.
— A minha mãe e Annie sofreram uma colisão frontal com mais dois carros e um camião.
A nossa mãe teve morte imediata e Annie ficou gravemente ferida, mas ainda está viva.
Sabrina quis dar-lhe primeiro a boa notícia sobre Annie. Charlie parecia estar aturdido.
— Gravemente como? E, a propósito, sinto muito pela vossa perda.
Aquela era uma frase que Sabrina começava a odiar. Escutara-a na agência funerária, no
hospital e na florista. Parecia ser a frase-padrão que toda a gente proferia agora, muito
embora ela soubesse que a intenção dele era boa. Era difícil saber o que dizer diante de
um choque tão grande. Também ela teria dificuldade em arranjar as palavras certas para
dizer e, afinal de contas, o namorado de Annie era um estranho para si. Tudo o que
tinham em comum era a sua irmã, o que era muito. Em especial naquele momento. No
entanto, Charlie não lhe pareceu assim tão perturbado como Sabrina esperara.
Mostrava-se, acima de tudo, surpreso.
— Muito gravemente — respondeu Sabrina com sinceridade. — Ela continua em estado
crítico e foi operada ao cérebro ontem à noite. Parece estar a reagir bem, mas ainda não
está fora de perigo. Achei que deveria dizer-lhe, porque, segundo percebi pela conversa
de Annie, vocês os dois são muito próximos e estão muito apaixonados. Não queria que
achasse que nós não quiséssemos avisar, em especial se quiser vir até cá. Annie ainda está
sob forte sedação e continuará assim nos próximos dias, se tudo correr bem. Está ligada a
um ventilador, mas eles têm esperança de poder desligá-lo amanhã, se tivermos sorte.
—Jesus, ela vai ficar a vegetar ou vai ter morte cerebral, ou algo do género?
A maneira como Charlie disse aquilo irritou Sabrina. Pareceu-lhe cruel, em especial tendo
em vista o que Annie iria enfrentar. Mas ele ainda não sabia disso.
— Não há nenhuma razão que nos leve a pensar isso; a cirurgia correu bem para lhe
reduzir o inchaço no cérebro. Annie passou uma noite tranquila ontem.
— Por um instante fiquei preocupado. Não posso imaginar a Annie a ficar assim de
repente atrasada ou a vegetar. Se fosse esse o caso, era melhor que tivesse morrido.
Charlie era visivelmente insensível, em especial para um homem que acabara de saber
que a mulher que amava quase morrera. Sabrina antipatizou logo com ele, mas absteve-se
de tecer qualquer comentário. Afinal de contas, ele era o homem que a irmã amava e
devia-lhe algum respeito por conta disso, ou pelo menos alguma tolerância e o benefício
da dúvida, coisa que Sabrina lhe concedeu.
— Não concordo consigo — disse Sabrina em tom calmo. — Não queremos perdê-la, seja
qual for o estado em que ela estiver. É nossa irmã e nós amamo-la.
E era suposto que também Charlie a amasse.
— Isso quer dizer que não a desligam da máquina se ela tiver morte cerebral?
Sabrina não só não gostava dele, como estava a começar a odiá-lo, pelas coisas horrendas
que dizia. Charlie tinha a sensibilidade de um pato de borracha.
— Não se trata disso — respondeu Sabrina.
Ainda faltava vir o resto da história e Sabrina estava curiosa sobre qual seria a reacção de
Charlie agora, principalmente em tratando-se de um artista, que partilhava aquele mundo
com a sua irmã.
— O impacto do acidente causou outro tipo de sequelas. Algo muito importante e muito

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