Um lugar bem longe daqui

(Carla ScalaEjcveS) #1

Vamos comer alguma gororoba na lanchonete indo para casa.
Após fazer um gesto com a cabeça para todos, já que não havia sequer uma
pessoa que não conhecessem, eles se sentaram a uma mesa de canto. Ambos
pediram o especial do dia: filé de frango na chapa, purê de batatas com molho,
nabos e salada de repolho. Pãezinhos. Torta de noz-pecã com sorvete. Na mesa
ao lado, uma família de quatro pessoas se deu as mãos e baixou a cabeça enquanto
o pai recitava uma bênção em voz alta. Ao dizerem “amém”, eles beijaram o ar,
apertaram-se as mãos e começaram a passar os bolinhos de milho.
— Filho, eu sei que esse trabalho está afastando você das coisas — disse
Scupper. — A vida é assim, mas você não foi no baile de formatura nem nada no
outono passado, e eu não quero que deixe de fazer tudo isso, já que é seu último
ano na escola. O baile importante do pavilhão está chegando. Você vai convidar
alguma menina?
— Não. Pode ser que eu vá, mas não tenho certeza. Mas não tem ninguém
que eu queira convidar.
— Não tem nenhuma menina da escola com quem você queira ir?
— Não.
— Bom. — Scupper se recostou na cadeira enquanto a garçonete colocava seu
prato na mesa. — Obrigado, Betty. Você caprichou de verdade.
Betty deu a volta na mesa e colocou o prato de Tate, ainda mais bem servido.
— Comam — disse ela. — Tem mais de onde saiu. O especial é servido à
vontade.
Ela sorriu para Tate antes de voltar para a cozinha rebolando os quadris de
forma exagerada.
— As meninas da escola são bobas — disse Tate. — Só sabem falar de
penteados e salto alto.
— Ora, é isso que as meninas fazem. Às vezes você precisa aceitar as coisas
como elas são.
— Pode ser.
— Escute, filho, eu não dou muita importância ao que as pessoas falam por aí,
nunca dei. Mas corre o boato de que você está tendo uma coisa com aquela
menina do brejo lá. — Tate ergueu as mãos. — Espere, espere um instante —
continuou Scupper. — Eu não acredito em todas as histórias que contam sobre
ela; ela deve ser uma menina legal. Mas, filho, tome cuidado. Você não quer
começar uma família antes da hora. Entende o que estou dizendo, né?
Mantendo a voz baixa, Tate sibilou:
— Primeiro você diz que não acredita nas histórias que contam sobre ela,
depois diz que eu não devo começar uma família, o que mostra que você acredita,
sim, que ela é esse tipo de garota. Bom, eu vou dizer uma coisa: ela não é. Ela é
mais pura e inocente do que qualquer uma dessas meninas com quem você quer
que eu vá ao baile. Ah, cara, tem umas meninas nesta cidade... Bom, podemos
dizer que elas caçam em bando e não fazem prisioneiros. E, sim, eu tenho visitado
Kya de vez em quando. Sabe por quê? Estou ensinando ela a ler, porque as
pessoas desta cidade foram tão cruéis com ela que nem à escola ela pôde ir.
— Tudo bem, Tate. Bom para você. Mas, por favor, entenda que é meu dever

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