luz. Enquanto Kya observava, algumas fêmeas sinalizaram tlim, tlim, tlim, tilim,
voando numa dancinha em zigue-zague, enquanto outras piscaram tilim, tilim,
tlim, outro padrão de dança. Os machos, é claro, conheciam os sinais da sua
espécie e só voavam até essas fêmeas. Então, como Jodie costumava dizer, os
insetos esfregavam os traseiros uns nos outros, como a maioria das coisas fazia,
para gerar filhotes.
De repente, Kya se sentou mais ereta e prestou atenção: uma das fêmeas tinha
mudado de código. Primeiro piscou a sequência correta de tlins e tilins, atraindo
um macho da sua espécie, e eles acasalaram. Então piscou um sinal diferente, e
um macho de outra espécie voou até ela. Ao decodificar a mensagem, o segundo
macho teve certeza de que havia encontrado uma fêmea disponível da própria
espécie, e pairou acima dela para acasalar. Mas de repente a vaga-lume fêmea se
projetou para cima dele, o capturou com a boca e o devorou, mastigando todas as
seis patas e as duas asas.
Kya observou outros vaga-lumes. As fêmeas conseguiam o que queriam —
primeiro um parceiro, depois uma refeição — simplesmente modificando seus
sinais.
Sabia que aquela situação não permitia julgamentos. Não era a maldade que
estava em jogo, era apenas a vida pulsando, ainda que em detrimento de alguns
dos participantes. A biologia vê o certo e o errado como a mesma cor sob uma
luz diferente.
Ela ficou mais uma hora esperando Tate, até que finalmente voltou a pé para o
barracão.
*
Na manhã seguinte, xingando os fiapos da esperança cruel, ela voltou à lagoa.
Sentada na beira d’água, ficou atenta ao ruído de um barco descendo o canal aos
engasgos ou cruzando os estuários distantes.
Ao meio-dia, levantou-se e berrou:
— TATE, TATE, NÃO, NÃO.
Então caiu de joelhos com o rosto na lama. Sentiu algo sumir sob seus pés, um
puxão forte. Um movimento da maré que ela conhecia muito bem.