Um lugar bem longe daqui

(Carla ScalaEjcveS) #1

24.


A torre


1965


Nuvens de tempestade se acumulavam e pressionavam o horizonte quando Kya
entrou no mar da tarde com seu barco a motor. Não via Chase desde o
piquenique dez dias antes, mas ainda sentia o formato e a firmeza do corpo dele
imprensando o seu na areia.
Não havia nenhuma outra embarcação à vista quando ela foi na direção de
uma enseada ao sul de Point Beach, onde já tinha visto borboletas diferentes de
um branco tão forte que talvez fossem albinas. Quarenta metros mais à frente,
porém, soltou de repente o acelerador ao ver os amigos de Chase colocando a
bordo dos barcos cestos de piquenique e toalhas coloridas. Kya virou o barco
depressa para ir embora a toda, mas, cedendo a um forte impulso, virou-se e
procurou por ele. Sabia que nenhuma parte daquele anseio fazia sentido. Um
comportamento ilógico para preencher um vazio não iria preencher muito mais.
Quanto se está disposto a oferecer para vencer a solidão?
E ali, perto de onde ele a beijara, ela o viu indo em direção à lancha
carregando varas de pescar. Atrás dele, Sempre com pérolas levava um isopor.
De repente, Chase virou a cabeça e olhou diretamente para onde ela estava
flutuando no barco. Ela não virou para o outro lado; encarou-o também. Como
sempre, a timidez venceu, e Kya interrompeu o contato visual, afastou-se depressa
e manobrou para uma baía abrigada.
Dez minutos depois, religou o motor e saiu para o mar. Mais à frente viu
Chase sozinho em sua lancha, boiando nas ondas. À espera.
O velho desejo aumentou. Ele continuava interessado nela. É verdade que
tinha sido insistente demais no piquenique, mas havia parado quando ela o
afastara. Havia pedido desculpas. Talvez ela devesse lhe dar outra chance.
Ele acenou para ela se aproximar e disse:
— Oi, Kya.
Ela não chegou mais perto; tampouco se afastou. Ele ligou o motor e se
aproximou.
— Kya, desculpe por aquele dia, está bem? Vem, quero te mostrar a torre de
incêndio.

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