com o rádio no volume máximo. “Garotos que não prestam fazem muito
barulho”, dissera ela.
Mas havia um consolo para as fêmeas. A natureza é audaciosa o suficiente para
garantir que os machos que enviam sinais desonestos ou passam de uma fêmea
para outra quase sempre terminem sozinhos.
Outro artigo abordava a grande rivalidade entre espermatozoides. Na maioria
das formas de vida, os machos competem para inseminar as fêmeas. Às vezes os
leões lutam até a morte; elefantes rivais travam presas e destroem o chão que
pisam enquanto dilaceram a carne uns dos outros. Embora muito ritualizados, os
conflitos ainda podem acabar em mutilação.
Para evitar esses ferimentos, os inseminadores de algumas espécies competem
segundo modalidades menos violentas e mais criativas. Os insetos são os mais
imaginativos. O pênis do macho de lavadeira é equipado com uma conchinha,
que retira os espermatozoides ejetados pelo rival anterior antes de depositar os
seus.
Kya largou o artigo no colo e deixou seu pensamento devanear com as nuvens.
Alguns insetos fêmeas devoram o parceiro, mães mamíferas estressadas abandonam
as crias, muitos machos inventam maneiras arriscadas ou ardilosas de vencer os
espermatozoides dos concorrentes. Nada parecia ser excessivamente indecoroso,
contanto que o ciclo da vida se perpetuasse. Ela sabia que aquele não era um lado
obscuro da natureza, apenas modos inventivos de sobreviver contra todos os
obstáculos. Com certeza no caso dos humanos não devia ser só isso.
*
Depois de três dias seguidos sem ver Kya, Chase começou a perguntar se poderia
aparecer em determinado dia e horário para visitá-la no barracão ou nesta ou
naquela praia, e sempre chegava pontualmente. De longe, ela via sua lancha de
cores vivas flutuando nas ondas — como as penas chamativas da plumagem de
uma ave na época reprodutiva — e sabia que ele tinha vindo só para vê-la.
Começou a imaginá-lo levando-a para um piquenique com os amigos. Todos
rindo e correndo para as ondas, chutando a espuma. Ele a pegando no colo e
fazendo-a girar. Depois sentada com os outros, comendo sanduíches e tomando as
bebidas trazidas num isopor. Aos poucos, imagens de casamento e filhos foram se
formando apesar da resistência dela. Deve ser algum impulso biológico que me pressiona
para reproduzir, pensou. Mas por que ela não podia ter pessoas queridas como todo
mundo? Por que não?
Mas toda vez que ela tentava perguntar quando ele iria apresentá-la aos amigos
e parentes, as palavras grudavam na sua língua.
Um dia, boiando à deriva no mar, poucos meses depois de se conhecerem, ele
disse que estava perfeito para nadar.
— Não vou olhar — disse ele. — Tire a roupa e pule, eu vou depois.
Ela ficou em pé na frente dele, equilibrando-se no barco, mas enquanto
puxava a camiseta por cima da cabeça Chase não desviou os olhos. Ele estendeu a