acasalamento: apêndices para afastar outros machos e atrair uma sucessão de
fêmeas. Mas ela havia se deixado levar pelo mesmo truque de Ma: fodedores
dissimulados saltadores. Quantas mentiras Pa teria lhe contado; a quantos
restaurantes caros a teria levado até o dinheiro acabar e ele a carregar para seu
verdadeiro território: um barracão no meio do pântano? Talvez fosse melhor
deixar o amor num solo inculto.
Em voz alta, ela recitou um poema de Amanda Hamilton:
Agora preciso soltar.
Soltar você.
O amor muitas vezes
É motivo para ficar.
Quase nunca razão
Para partir.
Eu solto a corda
E vejo você flutuar para longe.
O tempo inteiro
Você achou
Que o que puxava para o fundo
Era a correnteza ardente
Do peito do seu amor.
Mas era a maré do meu coração
Soltando você
Para sair flutuando
Junto com as algas.
O sol fraco encontrou espaço entre as nuvens pesadas e tocou o banco de
areia. Kya olhou ao redor. A correnteza, o grande movimento do mar e aquela
areia haviam conspirado para formar uma rede delicada, porque à sua volta se
espalhava a coleção de conchas mais impressionante que ela já vira. A inclinação
da areia e o fluxo manso da água faziam as conchas se acumularem na lateral, ao
abrigo do vento, depositando-as delicadamente na areia sem quebrá-las. Ela viu
várias raras e muitas das suas preferidas, intactas e peroladas. Ainda reluzindo.
Caminhando entre elas, selecionou as mais preciosas e as empilhou. Virou o
barco, despejou a água e dispôs cuidadosamente as conchas pelo canto interno.
Então começou a planejar o trajeto de volta pondo-se de pé bem ereta e
observando a água. Leu o mar e, após aprender com as conchas, decidiu seguir
pela lateral ao abrigo do vento e de lá ir para o continente. Evitando por
completo as correntezas mais fortes.
Ao zarpar, sabia que ninguém nunca mais veria aquele banco de areia. Os
elementos haviam criado um sorriso de areia breve, movediço e de inclinação
precisa. A maré e a correnteza seguinte desenhariam um banco de areia diferente
e depois outro, porém nunca mais aquele dali. Não o que a tinha resgatado. Que
lhe ensinara uma coisinha ou outra.