livrarias expuseram seu livro nas vitrines ou mostruários. Os cheques
correspondentes aos direitos autorais chegariam a cada seis meses, disseram, e
poderiam valer vários milhares de dólares cada um.
*
Sentada à mesa da cozinha, ela rascunhou uma carta de agradecimento para Tate,
mas, quando a releu, sentiu o coração palpitar. Um bilhete não parecia suficiente.
Graças à gentileza dele, o amor de Kya pelo brejo agora podia ser o trabalho da
sua vida. Podia ser a sua vida. Cada pena, cada concha ou inseto colecionado por
ela poderia ser compartilhado com outras pessoas, e ela não precisaria mais cavar o
próprio jantar na lama. Talvez não precisasse mais comer mingau todo dia.
Pulinho tinha dito que Tate estava trabalhando como ecologista no instituto e
laboratório novos perto de Sea Oaks, e que haviam lhe dado um barco de
pesquisa estiloso. Ela já o vira de longe algumas vezes, mas mantivera distância.
Acrescentou um pós-escrito à carta: “Se algum dia estiver perto da minha casa,
pare para uma visita. Eu gostaria de te dar um exemplar do livro”, e endereçou-a
para ele no laboratório.
Na semana seguinte, contratou um faz-tudo chamado Jerry, que instalou água
corrente, um aquecedor de água e um banheiro completo com banheira de pé no
quarto dos fundos. Pôs uma pia em cima de um armário com uma bancada de
lajotas e uma privada com descarga. A energia elétrica foi trazida, e Jerry instalou
um fogão e uma geladeira novos. Kya insistiu em manter o velho fogão a lenha
com a pilha de madeira ao lado, pois aquecia o barracão, mas sobretudo porque
fora nele que sua mãe havia assado carinhosamente mil pães de minuto. E se Ma
voltasse e seu fogão não estivesse mais ali? Jerry confeccionou armários de cozinha
com madeira de pinheiro, instalou uma porta da frente nova, trocou a tela da
varanda e fez prateleiras do chão até o teto para abrigar os espécimes de Kya. Ela
encomendou um sofá, cadeiras, camas, colchões e tapetes na Sears, mas manteve a
velha mesa da cozinha. E agora tinha um guarda-roupa de verdade para guardar
algumas lembranças; um pequeno armário de colagens da sua família despedaçada.
Como antes, o barracão permaneceu sem pintura do lado de fora, as tábuas de
pinheiro gastas e o telhado de zinco tomados por tons de cinza e ferrugem,
acariciados pela barba-de-velho do carvalho que ficava logo em cima. Menos
mambembe, mas ainda entrelaçado à trama do brejo. Kya continuou dormindo na
varanda, exceto nos dias mais frios do inverno. Só que agora tinha uma cama.
*
Certa manhã, Pulinho disse a Kya que o pessoal de uma incorporadora estava
chegando à região com grandes planos de aterrar o “brejo lamacento” e construir
hotéis. De vez em quando, no ano anterior, ela vira máquinas grandes abatendo
bosques inteiros de carvalhos numa mesma semana, depois abrindo canais para