maioria desses anos o imposto foi de mais ou menos cinco dólares. Vamos ver
aqui, tenho que calcular. — Ele foi até uma calculadora grande e antiquada,
digitou alguns números e, depois de cada um, girou uma manivela que fazia um
barulho mecânico como se de fato estivesse somando. — Parece que vai dar uns
oitocentos dólares mais ou menos... para o terreno ficar em dia.
Kya saiu do cartório com uma escritura completa em seu nome para cento e
vinte e cinco hectares de lagoas luxuriantes, brejos cintilantes, florestas de carvalho
e uma praia privativa comprida no litoral da Carolina do Norte. “Categoria
terreno baldio. Pântano lamacento.”
Ao entrar de novo na sua lagoa sob o crepúsculo, conversou com a garça-azul-
grande:
— Está tudo bem. Isto aqui é seu!
*
Ao meio-dia do dia seguinte havia um bilhete de Tate na sua caixa de correio, o
que lhe pareceu estranho e de certo modo formal, já que antes ele deixava recados
no toco das penas. Estava agradecendo o convite para passar na casa dela e pegar
um exemplar do livro, e escreveu que iria naquela mesma tarde.
Levando um dos seis exemplares do seu livro novo que a editora tinha
mandado, ela foi esperar no velho tronco de ler. Cerca de vinte minutos depois
ouviu o barulho do antigo barco de Tate resfolegando pelo canal e se levantou.
Quando ele apareceu no meio da vegetação, os dois acenaram e sorriram de leve.
Ambos na defensiva. Na última vez em que ele tinha aparecido ali, ela jogara
pedras na cara dele.
Tate amarrou o barco e foi até ela.
— Kya, seu livro é impressionante.
Ele se inclinou um pouco para a frente como se fosse abraçá-la, mas a casca
endurecida do coração de Kya o reteve.
Em vez disso, ela entregou o livro a ele.
— Toma, Tate. É para você.
— Obrigado, Kya — disse ele, abrindo o exemplar e folheando as páginas.
Não comentou que, é claro, já tinha comprado um na livraria de Sea Oaks e se
maravilhado com cada página. — Nunca foi publicado nada parecido. Tenho
certeza de que é só o começo para você.
Ela apenas baixou a cabeça e sorriu de leve.
Então, abrindo na folha de rosto, ele disse:
— Ah, você não assinou. Precisa fazer uma dedicatória para mim. Por favor.
Ela ergueu a cabeça. Não tinha pensado nisso. Que palavras poderia escrever
para Tate?
Ele tirou uma caneta do bolso da calça jeans e lhe entregou.
Ela pegou a caneta e após alguns segundos escreveu:
Para o Menino das Penas