34.
Revista no barracão
1969
— Bom, mais uma vez ela não está — disse Joe, batendo na aldrava da porta de
tela de Kya.
Ed estava parado nos degraus de tijolo e tábua, com as mãos em concha rente à
tela para espiar lá dentro. Galhos imensos do carvalho enfeitados por fios longos
de barba-de-velho faziam sombras nas tábuas gastas e no telhado pontudo do
barracão. Apenas pedaços cinza de céu apareciam e desapareciam naquele fim de
manhã de novembro.
— É claro que ela não está. Não importa. Temos um mandado de busca.
Vamos entrar e pronto, aposto que não está trancado.
Joe abriu a porta enquanto chamava:
— Alguém em casa? É o xerife.
Lá dentro, eles ficaram encarando as prateleiras de espécimes.
— Ed, olhe só para isso. Continua no outro cômodo ali e no corredor
também. Ela parece meio fora dos eixos. Doida feito um rato com três olhos.
— Pode ser, mas pelo visto é uma baita especialista no brejo. Você sabe que
ela publicou aqueles livros. Bom, ao trabalho. Certo, aqui estão as coisas que
devemos procurar. — O xerife leu em voz alta uma breve lista. — Roupas de lã
vermelha que possam corresponder aos fios vermelhos encontrados no casaco de
Chase. Um diário, calendário ou anotações, algo em que ela possa ter escrito os
locais e horários do paradeiro dela; o colar de concha; ou canhotos das passagens
de ônibus. E nada de bagunçar as coisas dela. Não há motivo para isso. Podemos
procurar debaixo e em volta de tudo; não é preciso estragar nada.
— Sim, você tem razão. Isto aqui é quase um santuário. Metade de mim está
impressionada, a outra metade está com calafrios.
— Vai ser trabalhoso, com certeza — falou o xerife, examinando com cuidado
atrás de uma fileira de ninhos de pássaro. — Vou começar pelo quarto dela lá
atrás.
Os dois trabalharam em silêncio, afastando roupas em gavetas, examinando
cantos de armários, movendo vidros com peles de cobra e dentes de tubarão à
procura de provas.