40.
Cypress Cove
1970
Depois do almoço, o juiz Sims perguntou ao promotor:
— Eric, estão prontos para chamar sua primeira testemunha?
— Estamos, Meritíssimo.
O costume, em casos de homicídio anteriores, era chamar o médico-legista
primeiro, porque o testemunho dele apresentava indícios materiais como a arma
usada, a hora e o local do óbito e fotos da cena do crime, e tudo isso causava uma
forte impressão nos jurados. Mas, naquele caso, como não havia arma do crime,
tampouco digitais ou pegadas, Eric pretendia começar com o motivo.
— A promotoria gostaria de chamar o Sr. Rodney Horn, Meritíssimo.
Todos no tribunal observaram Rodney Horn subir no banco das testemunhas
e jurar dizer a verdade. Kya reconheceu seu rosto, muito embora o tivesse visto
apenas por alguns segundos. Virou-se para o outro lado. Mecânico aposentado,
era um deles, passava a maior parte dos dias pescando, caçando ou jogando
pôquer no Swamp Guinea. No seu estômago cabia tanta bebida quanto num
barril. Naquele dia, como em todos os outros, ele estava usando macacão jeans
com camisa xadrez limpa e tão engomada que o colarinho chegava a empinar.
Segurou a boina de pescador com a mão esquerda enquanto prestava juramento
com a direita, então se sentou no banco das testemunhas e apoiou a boina nos
joelhos.
Eric se aproximou casualmente do banco das testemunhas.
— Bom dia, Rodney.
— Bom dia, Eric.
— Pois bem, Rodney, acredito que você estava pescando com um amigo
perto de Cypress Cove na manhã do dia 30 de agosto de 1969, correto?
— Isso, correto, é isso mesmo. Eu e Denny fomos pescar. A gente chegou
com o dia raiando.
— Para constar dos autos, está se referindo a Denny Smith?
— Isso, eu e Denny.
— Certo. Gostaria que contasse ao tribunal o que viu naquela manhã.
— Bem, como eu disse, a gente chegou lá no raiar do dia, e eu acho que eram