Tom parou diante do banco das testemunhas e, após um interrogatório de
cinco minutos, resumiu o depoimento do Sr. Price:
— Então o senhor nos disse o seguinte: primeiro, não havia nenhuma mulher
parecida com a ré no ônibus de Greenville para Barkley Cove na noite de 29 de
outubro de 1969; segundo, havia um homem alto e magro, mas, na ocasião,
mesmo o senhor tendo visto o rosto dele de muito perto, não pensou que fosse
uma mulher disfarçada; terceiro, essa ideia de disfarce só lhe ocorreu quando o
xerife lhe sugeriu. — Tom continuou antes de a testemunha poder reagir: — Sr.
Price, diga como tem certeza de que o homem magro estava a bordo do ônibus
das 23h50 no dia 29 de outubro? Fez alguma anotação, escreveu isso em algum
lugar? Pode ter sido na noite anterior ou na seguinte. Tem cem por cento de
certeza de que foi no dia 29 de outubro?
— Bem, entendo aonde o senhor quer chegar. Quando o xerife estava
puxando pela minha memória tive a impressão de que esse tal homem estava
naquele ônibus, mas agora acho que não tenho cem por cento de certeza.
— Além disso, Sr. Price, o ônibus estava muito atrasado naquela noite, certo?
Na realidade, vinte e cinco minutos atrasado, e só chegou a Barkley Cove à 1h40
da manhã. Correto?
— Sim. — O Sr. Price olhou para Eric. — Só estou tentando ajudar, fazer a
coisa certa.
Tom o tranquilizou.
— O senhor foi de grande ajuda, Sr. Price. Muito obrigado. Sem mais
perguntas.
*
Eric chamou a testemunha seguinte, o motorista do ônibus das 2h30 da manhã de
Barkley Cove para Greenville na manhã do dia 30 de outubro, um homem
chamado John King. Ele afirmou que a ré, a Srta. Clark, não estava no ônibus,
mas que havia uma senhora mais velha...
— ...alta como a Srta. Clark, de cabelo grisalho curto e encaracolado, como
num permanente.
— Olhando para a ré, Sr. King, seria possível que, caso a Srta. Clark tivesse se
disfarçado como uma senhora de idade, ela houvesse ficado parecida com a
mulher no ônibus?
— Bem, é difícil de imaginar, mas pode ser.
— Então é possível?
— É, acho que sim.
Na sua interrogação, Tom disse:
— Não podemos aceitar a palavra acho num julgamento por assassinato. O
senhor viu a ré Srta. Clark no ônibus das 2h30 de Barkley Cove para Greenville
na madrugada do dia 30 de outubro de 1969?
— Não, não vi.
— E algum outro ônibus foi de Barkley Cove para Greenville naquela noite?