acabavam dando meia-volta e desaguando no mar.
No entanto, como tinha só sete anos e era menina, ela nunca tinha saído de
barco sozinha. E ali estava ele, flutuando, preso a um tronco por uma única corda
de algodão. Uma sujeira cinza, material de pesca velho e latinhas de cerveja
amassadas cobriam o chão. Ao embarcar, ela disse em voz alta:
— Preciso ver a gasolina, como Jodie falou, para Pa não perceber que eu
peguei o barco. — Ela espetou um junco partido dentro do tanque enferrujado.
— Acho que o que tem dá para uma voltinha.
Como qualquer bom ladrão, ela olhou em torno, então soltou a linha de
algodão do tronco e remou para a frente com a única pá. A nuvem silenciosa de
libélulas se abriu diante dela.
Sem ter como resistir, ela puxou a cordinha da ignição e foi arremessada para
trás quando o motor pegou de primeira, engasgando e arrotando fumaça branca.
Segurou a cana do leme e girou o acelerador além da conta, e o barco fez uma
curva fechada, com o motor aos berros. Ela soltou o acelerador, ergueu as mãos, e
o barco diminuiu a velocidade e passou a ronronar.
Quando tiver problemas, é só soltar. Voltar para o ponto morto.
Acelerando com mais cuidado, ela rodeou o velho cipreste caído, tuf, tuf, tuf, e
passou pelos gravetos empilhados da toca de castor. Então, prendendo a
respiração, seguiu para a entrada da lagoa, quase escondida pelas amoreiras.
Encolhendo-se para passar pelos galhos baixos de árvores gigantescas, seguiu
devagar pelo meio do matagal por mais de cem metros, como uma tartaruga
escorregando de um tronco caído. Um tapete flutuante de plantas aquáticas
deixava a água tão verde quanto o teto cheio de folhas das copas, criando um
túnel cor de esmeralda. Por fim, as árvores se abriram e ela deslizou para um lugar
de céu aberto e capim alto, onde aves grasnavam. A visão de um pintinho quando
finalmente rompe a casca, pensou.
Kya prosseguiu, um pontinho minúsculo de menina dentro de um barco,
virando para lá e para cá conforme um sem-fim de estuários se ramificava e se
entrelaçava à sua frente. Vire sempre à esquerda em todas as curvas quando estiver
saindo, dissera Jodie. Ela mal tocava no acelerador, e ia guiando o barco pela
correnteza, mantendo o ronco do motor baixo. Ao dar a volta numa moita de
juncos, topou com uma fêmea de veado-de-cauda-branca e seu filhote nascido na
última primavera bebendo água. Os animais ergueram a cabeça de forma brusca,
espirrando gotículas pelo ar. Kya não parou, senão eles iriam fugir, lição que
aprendera observando perus selvagens: se você agir como predador, eles agem
como presas. Basta ignorá-los e seguir devagar. Ela passou vagarosamente, e os
veados continuaram imóveis feito árvores até ela desaparecer atrás do capim alto.
Chegou a um lugar com lagoas escuras dentro de uma garganta de carvalhos e
lembrou-se de um canal lá na ponta que dava num estuário enorme. Muitas vezes
se deparou com becos sem saída, e teve de voltar para fazer uma curva diferente.
Guardou na cabeça todos esses marcos para poder retornar. Por fim, o estuário
surgiu à frente, com água se estendendo até tão longe que espelhava o céu
inteirinho e todas as nuvens nele.
A maré estava baixando, ela percebia isso a partir das linhas d’água nas margens
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1