Um lugar bem longe daqui

(Carla ScalaEjcveS) #1

ela demorasse demais, Pa saberia que tinha pegado o barco. Foi seguindo devagar;
talvez conseguisse encontrar aquele menino.
Mais alguns minutos de córrego fizeram surgir uma curva e o grande estuário
mais à frente, e do outro lado o menino no barco. Garças levantaram voo, uma
linha de bandeiras brancas em contraste com as nuvens cinzentas cada vez mais
carregadas. Ela fixou o olhar nele com força. Com medo de chegar perto, com
medo de não chegar. Por fim, atravessou o estuário.
Ele ergueu o rosto quando ela se aproximou.
— Ei — falou.
— Ei.
Ela olhou para os juncos atrás do ombro dele.
— Para onde você está indo? — perguntou o menino. — Espero que não para
o mar. Está vindo um temporal.
— Não — disse ela, baixando os olhos para a água.
— Você está bem?
A garganta dela se apertou para conter um soluço. Ela aquiesceu, mas não
conseguiu dizer nada.
— Está perdida?
Ela tornou a balançar a cabeça. Não iria chorar feito uma menina.
— Tudo bem. Eu me perco o tempo todo — disse ele, e sorriu. — Ei, eu
conheço você. É a irmã do Jodie Clark.
— Eu era. Ele foi embora.
— Bom, você continua sendo a... — Mas ele deixou para lá.
— Como você me conhece?
Ela lançou um olhar rápido e direto para os olhos dele.
— Ah, eu ia pescar com o Jodie de vez em quando. Vi você algumas vezes.
Você era pequenininha. Kya, né?
Alguém sabia seu nome. Ela ficou assustada. Sentiu-se ancorada a alguma coisa
e livre de outra.
— É. Você sabe onde fica a minha casa? Daqui?
— Acho que sei. Já está na hora mesmo. — Ele indicou as nuvens com a
cabeça. — Vem comigo.
Ele puxou a linha, guardou os apetrechos de pesca na caixa e ligou o motor.
Ao rumar para o estuário, acenou, e Kya foi atrás. Avançando devagar, ele foi
direto para o canal certo, olhou para trás certificando-se de que ela havia feito a
curva, e seguiu. Fez isso em todas as curvas até as lagoas de carvalhos. Quando ele
entrou no curso d’água escuro que dava na casa dela, Kya percebeu onde tinha
errado e nunca mais cometeria o mesmo erro.
Ele a foi guiando na travessia da sua lagoa — mesmo depois de ela acenar
dando a entender que sabia o caminho — até a margem onde o barracão ficava
agachado na mata. Ela foi com o motor ligado até o velho tronco de pinheiro
caído e amarrou o barco. Ele começou a se afastar, balançando-se nas esteiras
opostas das duas embarcações.
— Está tudo bem agora?
— Sim.

Free download pdf