Um lugar bem longe daqui

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Bom, o temporal está vindo. É melhor eu ir.
Kya aquiesceu, então se lembrou do que Ma tinha lhe ensinado.
— Obrigada.
— De nada. Meu nome é Tate, caso a gente se veja de novo. — Como ela
não respondeu, ele disse: — Tchau, então.
Quando ele estava indo embora, gotas vagarosas de chuva começaram a
salpicar a margem da lagoa, e ela disse:
— Vai chover canivete... Aquele menino vai ficar ensopado.
Ela se abaixou junto ao tanque de combustível e enfiou o graveto de junco
nele, unindo as mãos em concha ao redor da borda para não pingar lá dentro. Ela
podia não saber contar moedas, mas tinha certeza de que não devia deixar cair
água na gasolina.
Está muito baixo. Pa vai perceber. Preciso levar um latão até o Posto Sing antes de Pa
voltar.
Ela sabia que o dono do posto, o Sr. Johnny Lane, sempre se referia à sua
família como lixo do pântano, mas lidar com ele, com as tempestades e marés iria
valer a pena, porque tudo em que ela conseguia pensar era em voltar àquele
espaço de mato, céu e mar. Sozinha, tinha ficado com medo, mas o medo já
estava reverberando como animação. E havia outra coisa também. A calma do
menino. Ela nunca tinha visto ninguém falar ou se mover com tanta firmeza.
Com tanta segurança e facilidade. O simples fato de estar perto dele, mas não tão
perto assim, havia aliviado sua tensão. Pela primeira vez desde que Ma e Jodie
tinham ido embora, Kya respirava sem dor, sentia algo além de mágoa. Precisava
daquele barco e daquele menino.


*


Na mesma tarde, segurando sua bicicleta pelo guidom, Tate Walker tinha entrado
na cidade, cumprimentando com a cabeça a Srta. Pansy, da Five and Dime, e
passado pela Western Auto a caminho do cais. Vasculhou o mar em busca do
barco de pescar camarão do pai, The Cherry Pie, e viu a tinta vermelha brilhante lá
longe e as amplas redes laterais balançando nas ondas. Quando o barco se
aproximou, escoltado pela própria nuvem de gaivotas, ele acenou, e seu pai, um
homem grandalhão com ombros que pareciam montanhas, uma vasta cabeleira e
barba ruivas, jogou-lhe a corda. Tate a prendeu e em seguida pulou a bordo para
ajudar a tripulação a descarregar a pesca.
Scupper bagunçou o cabelo de Tate.
— Tudo bem, filho? Obrigado por passar aqui.
Tate sorriu e balançou a cabeça.
— Imagine.
Eles e a tripulação se ocuparam colocando camarões em caixotes, carregando-
os até o cais, convidando uns aos outros aos gritos para uma cerveja na Dog-
Gone, perguntando a Tate sobre a escola. Um palmo inteiro mais alto do que os
outros, Scupper erguia três caixotes de metal por vez, atravessava a passarela com

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