eles e voltava para buscar mais. Tinha os punhos do tamanho dos de um urso,
com as articulações avermelhadas e feridas. Em menos de quarenta minutos o
convés foi enxaguado; as redes, presas; as cordas, amarradas.
Scupper disse à tripulação que tomaria cerveja com eles outro dia, pois
precisava fazer uns ajustes antes de ir para casa. Na cabine, pôs para tocar na
vitrola presa à bancada um 78 rotações de Miliza Korjus e aumentou o volume.
Ele e Tate se espremeram para dentro do compartimento do motor, onde Tate foi
lhe passando as ferramentas à medida que ele ia lubrificando peças e apertando
parafusos à luz de uma lâmpada fraca. E durante esse tempo todo a ópera
melodiosa e encantadora se erguia cada vez mais em direção ao céu.
O trisavô de Scupper, emigrante escocês, fora o único sobrevivente de um
naufrágio próximo ao litoral da Carolina do Norte na década de 1760. Nadara até
a praia, indo parar no litoral formado por ilhas de barreira conhecido como Outer
Banks, arrumara uma esposa e tivera treze filhos. Havia muitos descendentes
daquele mesmo Sr. Walker, mas Scupper e Tate ficavam quase sempre só os dois.
Não costumavam participar dos piqueniques dominicais dos parentes com salada
de frango e ovos recheados, não como faziam quando a mãe e a irmã ainda
estavam ali.
Por fim, sob o crepúsculo cada vez mais cinza, Scupper deu um tapa nos
ombros do filho.
— Pronto. Vamos para casa fazer a janta.
Eles subiram o cais, desceram a Main e pegaram uma rua sinuosa até a casa
onde moravam, uma construção de dois andares revestida com placas de cedro
castigadas pelo tempo que datava do início do século XIX. O acabamento branco
das janelas fora pintado recentemente, e o gramado que se estendia quase até o
mar estava aparado. Mas as azaleias e roseiras junto à casa estavam sufocadas pelas
ervas daninhas.
Scupper tirou as botas amarelas no vestíbulo e perguntou:
— Cansou de hambúrguer?
— Nunca canso de hambúrguer.
Em pé diante da bancada da cozinha, Tate separou pedaços de carne moída
que foi moldando em bolinhos e colocando no prato. Sua mãe e sua irmã
Carianne, ambas de boné, sorriam para ele de uma foto pendurada ao lado da
janela. Carianne adorava aquele boné do Atlanta Crackers, usava-o em todo lugar.
Ele tirou os olhos das duas e começou a fatiar os tomates, mexer os feijões. Se
não fosse por ele, elas estariam ali. Sua mãe assando um frango, Carianne cortando
pãezinhos.
Como de costume, Scupper queimou um pouco os hambúrgueres, mas
estavam suculentos por dentro e tão grossos quanto um pequeno catálogo
telefônico. Ambos famintos, pai e filho passaram algum tempo comendo calados,
então Scupper perguntou a Tate sobre a escola.
— Biologia é legal, eu gosto, mas a gente está estudando poesia na aula de
inglês. Não posso dizer que gosto. Todo mundo tem que ler um poema em voz
alta. Você recitava uns poemas antigamente, mas eu já esqueci.
— Tenho o poema certo para você, filho — disse Scupper. — Meu preferido:
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1