“A cremação de Sam McGee”, de Robert Service. Eu costumava ler em voz alta
para vocês. Era o preferido da sua mãe. Ela ria toda vez que eu lia, nunca se
cansava.
Tate baixou os olhos ao ouvir a referência à mãe, e empurrou o feijão no
prato.
Scupper continuou:
— Não pense que poesia é só coisa de mulherzinha. Existem poemas de amor
piegas, claro, mas também têm os engraçados, vários sobre natureza, até alguns
sobre guerra. O mais importante é que eles fazem você sentir algo. — Seu pai
tinha lhe dito muitas vezes que um homem de verdade era aquele que chorava
sem pudor, lia poesia com o coração, sentia a ópera na alma, e fazia o que fosse
necessário para defender uma mulher. Scupper foi até a sala e gritou de lá: — Eu
costumava saber quase tudo de cor, mas não sei mais. Ah, achei aqui, vou ler para
você.
Ele tornou a se sentar à mesa e começou a leitura. Quando chegou a este
trecho:
E sentado estava Sam, com um ar tranquilo e calmo, no coração do fogo abrasador;
E no seu rosto um sorriso que se via de longe, e ele disse: “Feche a porta, por favor.”
Está gostoso aqui dentro, mas estou com muito medo de você deixar a chuva e o frio
entrar...
Desde que saí de Plumtree no Tennessee eu não fico tão quentinho quanto neste lugar.
Scupper e Tate riram baixinho.
— Sua mãe sempre ria disso.
Ambos sorriram, recordando. Continuaram sentados ali por mais um minuto.
Até que Scupper falou que iria tomar banho enquanto Tate fazia o dever de casa.
No seu quarto, folheando o livro de poesia em busca de um poema para ler na
aula, Tate encontrou um de Thomas Moore:
... ela se foi para o Lago do Pântano Sombrio
Onde a noite inteira, à luz de um vaga-lume frio,
Vai remando sua canoa branca.
E sua luz de vaga-lume eu em breve irei ver,
E seu remo em breve ouvir;
Longa e amorosa nossa vida vai ser,
E a donzela esconderei num cipreste aberto,
Quando os passos da morte chegarem perto.
As palavras o fizeram pensar em Kya, a irmã mais nova de Jodie. Ela parecera
muito pequena e sozinha na imensa vastidão do brejo. Imaginou a própria irmã
perdida lá. Seu pai tinha razão, poemas faziam você sentir algo.