então viu que, além de iscas e tabaco, ele também vendia fósforos, banha, sabão,
sardinhas, salsichas tipo Viena, mingau, biscoitos de água e sal, papel higiênico e
querosene. Praticamente tudo de que ela precisava no mundo estava bem ali.
Enfileirados no balcão havia cinco latões de quatro litros cheios de balas de um
centavo: confetes sabor canela, balas duras multicoloridas, pirulitos de caramelo.
Pareciam mais balas do que cabia no mundo inteiro.
Com o dinheiro dos mariscos, ela comprou fósforos, uma vela e mingau.
Querosene e sabão teriam de esperar outro saco cheio. Foi preciso toda a sua
força de vontade para não comprar um pirulito de caramelo em vez da vela.
— Quantos sacos o senhor compra por semana? — perguntou ela.
— Ora, ora, a gente está fechando um acordo de negócio? — indagou ele,
dando sua risada característica: boca fechada, cabeça jogada para trás. — Eu
compro uns vinte quilos de dois em dois dias, três em três dias. Mas, veja, tem
mais um monte de gente que traz também. Se você chega e eu já tenho o que eu
preciso, bom, já era. Quem chega na frente leva. Esse é o jeito.
— Aham. Está bem assim, obrigada. Tchau, Pulinho. — Ela então acrescentou
mais uma coisa: — Ah, aliás, meu pai mandou lembranças.
— É mesmo? Ora, ora. Diga que eu mandei de volta também, por favor.
Tchau, Srta. Kya.
Ele deu um sorriso largo enquanto ela ia embora no barco a motor. Ela quase
sorriu para si mesma. Comprar a própria gasolina e a comida com certeza faziam
dela uma adulta. Mais tarde, no barracão, ao desembalar a pequena pilha de
mantimentos, Kya encontrou no fundo da sacola uma surpresa amarela e
vermelha. Não era adulta o suficiente para o pirulito de caramelo que Pulinho
tinha colocado lá dentro.
Para ficar à frente dos outros catadores, Kya ia ao brejo à luz de uma vela ou
da lua — sua sombra tremeluzia na areia reluzente — e catava os mariscos na
escuridão da noite. Acrescentava ostras também, e às vezes dormia perto de valas
debaixo das estrelas para chegar ao posto de Pulinho assim que amanhecesse. O
dinheiro dos mariscos se mostrou mais confiável do que o da segunda-feira jamais
fora, e em geral ela conseguia chegar antes dos outros.
Parou de ir ao Piggly, onde a Sra. Singletary sempre perguntava por que ela
não estava na escola. Mais cedo ou mais tarde iriam pegá-la e tirá-la de lá. Virava-
se com os mantimentos comprados no posto de Pulinho, e tinha mais mariscos do
que conseguia comer. Não ficavam tão ruins misturados com mingau e
esmigalhados até se tornarem irreconhecíveis. Não tinham olhos para encará-la
como os peixes.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1