verdade, não apenas camisetas. Um par de Keds de cadarço azul-marinho e um
par de sapatos de couro bicolores Buster Brown engraxado tantas vezes com cera
branca e marrom que chegava a reluzir. Kya ergueu uma blusa branca com gola
rendada e laço de cetim azul no pescoço. Sua boca se abriu um pouquinho.
A outra caixa continha fósforos, mingau, margarina, feijão, e um litro
inteirinho de banha feita em casa. Por cima, enrolados em jornal, havia nabos e
folhas de nabo, couves-nabos e quiabos.
— Pulinho — disse ela baixinho. — Isso é mais do que aqueles peixes
poderiam custar. Talvez seja um mês de peixes.
— Ora, que que as pessoas vão fazer com um monte de roupa velha espalhada
pela casa? Se elas têm essas coisas a mais e a senhorita precisa dessas coisas, e a
senhorita tem peixes e elas precisam de peixe, então esse é o acordo. Agora
precisa tirar tudo isso daí, porque não tenho espaço para quinquilharias aqui não.
Kya sabia que era verdade. Pulinho não tinha nenhum espaço sobrando, por
isso ela estaria lhe fazendo um favor ao tirar aquilo do cais dele.
— Vou levar, então. Agradeça a eles, sim? E vou defumar mais peixe e trazer
assim que puder.
— Está certo, então, Srta. Kya. Está ótimo assim. A senhorita traz os peixes
quando tiver.
Kya voltou para o mar com o motor resfolegando. Ao passar pela península,
fora do campo de visão do posto de Pulinho, pôs o motor em marcha neutra,
enfiou a mão na caixa e pegou a blusa com gola de renda. Vestiu-a direto por
cima do macacão áspero com os joelhos remendados, e amarrou a fitinha de cetim
com laço no pescoço. Então, com uma das mãos na cana do leme, a outra na
renda, seguiu pelo mar e pelos estuários em direção à sua casa.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1