Um lugar bem longe daqui

(Carla ScalaEjcveS) #1

14.


Fibras vermelhas


1969


Um calor pegajoso embaçava a manhã e a transformava numa névoa sem mar
nem céu. Joe saiu do prédio do xerife e encontrou Ed descendo da viatura.
— Chegue aqui, xerife. Recebi mais coisa do laboratório sobre o caso Chase
Andrews. Lá dentro está quente feito a goela de um javali.
Ele seguiu na frente até um carvalho grande cujas raízes muito antigas
perfuravam o chão de terra feito punhos fechados. O xerife foi atrás pisando em
bolotas que se esmigalharam sob seus pés, e os dois pararam em pé na sombra,
com os rostos virados para a brisa do mar.
Joe leu em voz alta:
— “Contusões no corpo, ferimentos internos condizentes com uma queda de
altura considerável.” Chase Andrews bateu com a nuca mesmo naquela viga... As
amostras de sangue e fios de cabelo batem com as dele. Isso provocou hematomas
graves e danos ao lóbulo posterior, mas não tão graves a ponto de matar o cara.
— Pronto, é isso: ele morreu onde nós o encontramos, não foi levado até lá.
O sangue e os cabelos na viga provam isso. “Causa da morte: impacto súbito nos
lóbulos occipital e parietal do córtex cerebral posterior, medula seccionada”... por
ter caído da torre.
— Então alguém destruiu mesmo todas as pegadas e impressões digitais. Algo
mais?
— Escute só. Encontraram várias fibras externas na jaqueta dele. Fibras de lã
vermelha que não constam em nenhuma das peças de roupa dele. Tem uma
amostra incluída.
O xerife balançou um pequeno invólucro plástico.
Os dois homens espiaram os fios vermelhos e ondulados pressionados entre as
camadas de plástico feito uma teia de aranha.
— Lã, segundo eles. Pode ser de um suéter, um cachecol, um gorro — disse
Joe.
— Uma camisa, uma saia, meias, uma capa. Ora, pode ser de qualquer coisa. E
a gente tem que encontrar.

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