simplesmente baixou a cabeça, entrou na mata para passar longe deles, e seguiu
em frente.
O que ele tem, por que não faz alguma coisa?, esbravejou Kya consigo mesma.
Sabia que macaco era ruim de se dizer; sabia disso pelo modo como Pa costumava
usar a palavra feito um palavrão. Pulinho poderia ter batido a cabeça daqueles
garotos uma na outra, ensinado uma lição a eles. Mas apressou o passo.
— Só um macaco velho indo para a cidade. Cuidado aí, neguinho, vê se não
vai cair — disseram eles para provocar Pulinho, que manteve os olhos fixos nos
próprios pés.
Um dos garotos estendeu a mão para o chão, pegou uma pedra e a lançou nas
costas de Pulinho. Acertou logo abaixo da escápula com uma pancada. Ele se
desequilibrou um pouco e continuou andando. Os garotos riram quando ele
desapareceu depois da curva, então cataram mais pedras e o seguiram.
Kya se esgueirou pelo meio dos arbustos até ultrapassá-los, com os olhos fixos
em seus bonés balançando acima dos galhos. Agachou-se num ponto em que os
arbustos densos se aproximavam do caminho por onde eles passariam dali a
segundos a menos de meio metro dela. Pulinho estava mais à frente, fora do
campo de visão. Ela torceu o saco de aniagem com a geleia até deixá-lo bem
apertado num nó em volta dos vidros. Quando os garotos chegaram na altura do
arbusto, ela brandiu o saco pesado e acertou o mais próximo com força na nuca.
O garoto caiu para a frente e desabou de cara no chão. Aos gritos e guinchos, ela
partiu para cima do outro, pronta para quebrar sua cabeça também, mas o garoto
saiu correndo. Ela adentrou uns cinquenta metros entre as árvores e ficou
observando até o primeiro garoto se levantar, segurando a cabeça e xingando.
Carregando o saco de vidros de geleia, Kya deu meia-volta em direção ao seu
barco e foi para casa. Pensou que provavelmente nunca mais faria uma visita.
*
No dia seguinte, quando o barulho do motor de Tate resfolegou pelo canal, Kya
correu até a lagoa e ficou parada no meio dos arbustos observando-o saltar do
barco com uma mochila. Ele olhou em volta e chamou seu nome, e bem devagar
ela deu um passo à frente vestindo uma calça jeans do seu tamanho e uma blusa
branca com botões descombinados.
— Oi, Kya. Desculpe não ter conseguido vir antes. Tive que ajudar meu pai,
mas vamos fazer você ler em dois tempos.
— Oi, Tate.
— Vamos sentar aqui.
Ele apontou para a curva em um galho de carvalho imerso nas sombras da
lagoa. Pegou na mochila um livro fino e gasto do alfabeto e um bloco pautado.
Com uma letra cuidadosa e lenta, traçou as letras entre as linhas, a A, b B, e pediu
para ela fazer o mesmo, paciente com o esforço que a fazia pôr a língua para fora.
Conforme ela escrevia, ele ia dizendo as letras em voz alta. Suave e lentamente.
Ela se lembrava de algumas das letras que Jodie e Ma tinham lhe mostrado, mas