com os números das páginas dos poemas preferidos de Ma.
Kya encontrou um de James Wright:
Desolado e frio de repente,
O quintal estava deserto, eu sabia,
Desejei tocar e segurar no colo
Meu filho, meu filho a falar,
A rir ou bulir ou calado ficar...
As árvores e o sol tinham sumido.
Tudo já sumira exceto nós.
Dentro de casa a mãe dele cantava
E mantinha quente o nosso jantar,
E nos amava, sabe Deus como,
A vasta terra escura assim.
E esse de Galway Kinnell:
Eu me importei...
Disse tudo que pensava
Com as palavras mais suaves que sabia. E agora...
Devo dizer que estou feliz porque acabou:
No final só conseguia sentir pena
Daquela ânsia por mais vida.
... Adeus.
Kya tocou as palavras como se fossem um recado, como se Ma as houvesse
sublinhado especialmente para a filha ler e compreender um dia à luz fraca do
lampião de querosene. Não eram grande coisa, não um bilhete escrito à mão
guardado no fundo da gaveta de meias, mas eram algo. Ela sentiu que as palavras
tinham um significado potente, mas não foi capaz de sacudi-las para liberá-lo. Se
algum dia virasse poeta, deixaria a mensagem clara.
*
Quando começou o último ano da escola, em setembro, Tate não conseguiu mais
ir à casa de Kya com a mesma frequência, mas, quando ia, levava livros escolares
de segunda mão. Não disse nada sobre o fato de os livros de biologia serem
avançados demais para ela, de modo que Kya leu capítulos que só teria estudado
na escola dali a quatro anos.
— Não se preocupe — dizia ele. — Você vai entender um pouquinho mais a
cada vez que ler.
E era verdade.
Conforme os dias foram encurtando, eles voltaram a se encontrar no barracão,