Um lugar bem longe daqui

(Carla ScalaEjcveS) #1

Algumas semanas depois, enquanto seu barco subia e descia as ondas e ela
observava os pelicanos planarem e se alimentarem no mar, Kya sentiu uma cólica
na barriga. Nunca tinha enjoado no mar, e aquela dor era diferente de qualquer
outra que já sentira. Ela atracou em Point Beach e se sentou na areia com as
pernas dobradas para um lado só, feito uma asa. A dor piorou, e ela fez uma careta
e deu um gemido discreto. Devia estar com dor de barriga.
De repente, ouviu o ronronar de um motor e viu o barco de Tate cortando as
ondas encimadas de branco. No instante em que a viu, ele virou o barco para a
praia e foi em direção à margem. Ela repetiu alguns dos palavrões de Pa. Sempre
gostava de ver Tate, mas não naquele momento em que talvez precisasse correr
para a mata de carvalhos com uma diarreia repentina. Depois de puxar o barco até
perto do dela, ele se jogou na areia ao seu lado.
— Oi, Kya. O que está fazendo? Eu estava indo para a sua casa.
— Oi, Tate. Que bom ver você.
Ela tentou soar normal, mas sua barriga se contraiu com força.
— Qual é o problema? — perguntou ele.
— Como assim?
— Sua cara não está boa. Qual é o problema?
— Acho que estou doente. Estou com umas dores bem fortes na barriga.
— Ah.
Tate deixou os olhos se perderem no mar. Enterrou os dedos dos pés descalços
na areia.
— Talvez seja melhor você ir embora — disse ela, com a cabeça baixa.
— Talvez seja melhor eu ficar até você melhorar. E se você não conseguir
voltar sozinha para casa?
— Talvez eu precise ir para o mato. Talvez eu passe mal.
— Talvez. Mas acho que isso não vai resolver não — disse ele baixinho.
— Como assim? Você não sabe o que tem de errado comigo.
— É uma sensação diferente de outras dores de barriga?
— É.
— Você tem quase quinze anos, né?
— É. O que isso tem a ver?
Ele ficou calado por um minuto. Arrastou os pés, enterrando os dedos mais
fundo na areia. Sem olhar para ela, falou:
— Pode ser que seja, você sabe, aquilo que acontece com as meninas da sua
idade. Lembra? Alguns meses atrás eu trouxe um folheto sobre isso. Estava junto
com aqueles livros de biologia.
Tate olhou para ela de relance, com o rosto pegando fogo de tão vermelho, e
tornou a desviar o olhar.
Kya baixou os olhos, pois seu corpo inteiro enrubesceu. É claro que não
houvera mãe para lhe ensinar nada, mas um folheto escolar trazido por Tate
realmente explicara alguma coisa. Tinha chegado a hora, e ali estava ela, sentada
na praia, virando mulher bem na frente de um menino. Sentiu a vergonha e o
pânico a dominarem. O que deveria fazer? O que iria acontecer exatamente?
Quanto sangue teria? Imaginou o sangue escorrendo na areia à sua volta. Ficou

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