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O cabeleireiro fez café, Reacher sentou-se na cadeira do barbeiro e o tipo
perguntou-lhe quais eram as recordações de infância que tinha da América dos
velhos tempos. Tudo para ganhar energia, imaginou Reacher. A verdade é que
Reacher tinha passado praticamente toda a infância fora do território continental
dos Estados Unidos. Era filho de um fuzileiro que servira no mundo inteiro.
Reacher tinha-o acompanhado, juntamente com o irmão e a mãe, uma família. O
Extremo Oriente, o Pacífico, a Europa. Dezenas de bases. O que ajudou, de certa
forma. A América dos velhos tempos fora sempre um mito para Reacher. Por
isso, repetiu as mesmas tretas que na altura lhe tinham dado alento, sobre
máquinas de pastilhas elásticas e Cadillacs com aletas de cauda, sol infinito,
cinema nos drive-ins, empregadas a andar de patins, cheeseburgers e Coca-Cola
fresca em garrafas de vidro verdes e basebol no rádio, em AM, a transmitir de
Kansas City, com estática e tudo. O cabeleireiro foi ficando com um sorriso cada
vez mais rasgado, como se de facto a energia ali dentro estivesse a aumentar para
um nível satisfatório.
E foi então que se ouviu o barulho do sedan de Orozco a parar lá fora, como
se estivesse a derrapar na lama. Reacher apressou-se a sair para ir ter com ele.
Sentou-se no lugar do passageiro.
— Alto penteado, meu — disse Orozco.
Reacher passou os dedos pelo cabelo. E perguntou:
— Nota-se?
— Realça-te as maçãs do rosto a sério. As senhoras vão adorar.