Escola da Noite

(Carla ScalaEjcveS) #1

Por essa altura, Neagley já tinha as transcrições do processo original relativo
à ausência sem autorização e, por isso, ela e Reacher deixaram Sinclair no quarto
e foram para o de Neagley lê-las. A cronologia concreta era bastante elementar.
Wiley não regressara após uma autorização rotineira de noventa e seis horas. Tão
simples quanto isso. Nunca mais tinha sido visto. Nunca informara os camaradas
de onde iria durante a autorização. O mais provável seria Frankfurt, onde havia
muitas e inventivas prostitutas, por causa das convenções. Wiley gostava de
prostitutas? A resposta era: tanto como qualquer outro.
E depois havia as questões relacionadas com o pano de fundo, para formar
uma imagem do tipo. Passatempos, interesses, paixões, coisas de que falava. Era
do Texas e, às vezes, falava de gado bovino. Tinha orgulho na terra natal. Às
vezes, ficava todo entusiasmado e dizia coisas de que se parecia arrepender mais
tarde. Noutras ocasiões, mantinha-se calado. Uma vez, afirmou que se alistara
apenas porque um tio lhe contara histórias do Davy Crockett. Gostava mais de
cerveja do que de bebidas fortes e não fumava. Não era casado e nunca falara de
uma companheira que tivesse ficado na América. Sentia-se extremamente
contente por estar onde estava. Gostava daquela colocação e dava a entender que
tinha apontado nesse sentido.
— Isso é esquisito — disse Neagley. — A maioria dos soldados ausentes sem
autorização não costuma sentir-se extremamente contente por estar onde está. A
questão é mesmo essa.
E Reacher retorquiu:
— E quem iria apontar para uma equipa responsável por uma bateria
Chaparral, numa frente abandonada? O tipo continua a ser um soldado raso. E
assim se manterá. De certeza que tinha noção disso.
— E o Davy Crockett fez sequer parte do exército?
— Deste exército, não. Fez parte da milícia do condado de Lawrence, no
Tennessee. E, claro, a seguir esteve no Álamo. Que foi uma história heroica, sem
dúvida, mas morrer sitiado e em completa inferioridade numérica não é
propriamente a imagem de glória que queremos que os recrutas tragam.
— Devíamos ir à procura do tio. Se calhar, são chegados.

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