Escola da Noite

(Carla ScalaEjcveS) #1

cada dia ser um dia a menos.
— Para quê?
— Não sei.
— Há quatro meses, referiu-se ao tio do Wiley.
— Estavam a perguntar-nos se o Wiley era conversador. Queriam saber do
que ele falava. Não havia grande coisa. Disse-me que era de Sugar Land, no
Texas. Sabia de gado bovino. Uma vez, disse que queria ser rancheiro. Mas mais
nada. Nunca falava muito. E foi então que, uma noite, ao voltarmos de um
exercício em que tínhamos cartuchos sem balas e conseguimos um resultado
bastante bom contra os helicópteros, descontraímos todos um bocado, bebemos
umas cervejas e ficámos bem atestados. Toda a gente começou a explicar porque
se tinha alistado. Mas de uma forma críptica. Há cada espertinho na nossa
unidade. Tínhamos de definir essas razões numa única frase inteligente. E eu não
sou lá muito bom nesse género de coisas. Quando chegou a minha vez, disse que
me tinha alistado para aprender um ofício. Achei que isso podia ter um duplo
sentido. Ofício, do género mecânico de automóveis, ou ofício, do género matar
pessoas. Que seria um emprego alternativo posteriormente, caso fosse difícil
encontrar trabalho como mecânico de automóveis.
— Boa resposta — afirmou Reacher.
— Eles não perceberam.
— E o que disse o Wiley?
— Disse que se tinha alistado por o tio lhe contar histórias do Davy Crockett.
O que foi uma coisa curta e críptica, tal e qual como devia ser. Género palavras-
cruzadas. E, a seguir, fez o sorrisinho secreto dele. Para ele, era fácil ser críptico.
Foi sempre críptico.
— E o que acha que ele quis dizer?
— Lembro-me do Davy Crockett da série de televisão. Via-a todas as
semanas. Usava um chapéu feito de um velho guaxinim. Não me fez querer
alistar. Por isso, não sei o que ele quis dizer. Suponho que, dessa vez, fui eu que
não percebi.
— E foi só tio ou também tinha nome?

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