Escola da Noite

(Carla ScalaEjcveS) #1

Foi então que Bishop saiu da sala, para, um minuto depois, Helmsworth
entrar. Era um homem compacto, perto dos sessenta e tal anos. Tinha cabelo
curto prateado e olhos cinzentos vivos. Trazia um uniforme militar normal,
muito bem engomado, com duas estrelas pretas no colarinho. Passara a noite
inteira num avião, mas parecia estar razoavelmente bem. Fizeram-se as
apresentações. Apertaram-se as mãos, com a exceção de Neagley, que fez sinal
com a cabeça educadamente. A seguir, sentaram-se todos, onde Neagley tinha
posto as cadeiras.
— Meu general, o senhor está muito irritado, numa escala de um a dez? —
perguntou Reacher.
— Tudo somado, meu filho, deve dar um oito ou um nove — respondeu
Helmsworth.
O tipo parecia estar a ler uma sentença de morte.
— E só pode piorar — acrescentou Reacher.
— Não tenho dúvidas disso, soldado.
— Mas não temos tempo para tretas. Por isso, meu general, faça lá o favor de
se animar. Estamos aqui para falar dos bons velhos tempos.
— Dos seus ou dos meus, major?
— De um sargento chamado Arnold P. Mason. Serviu na 82.ª Divisão
Paraquedista. Os vossos caminhos cruzaram-se em 1955 e mais umas quantas
vezes. Mas apenas tecnicamente. O senhor já estava a subir na carreira. Não se
vai lembrar dele.
— E não me lembro mesmo. Já foi há quarenta anos.
— Mas precisamos de saber do que se lembra da divisão dele.
— Mas isto é o quê, um projeto de folclore? O mês da história oral?
— Estamos a investigar um tipo chamado Wiley. Quando era miúdo e estava
a crescer, durante um período de seis anos, dos dez aos dezasseis, a mãe dele
teve como namorado um veterano da 82.ª Divisão, com uma carreira de vinte
anos na Europa. Achamos que esse namorado contou histórias ao miúdo. E
achamos que o miúdo nunca se esqueceu das histórias e que depois, muitos anos
mais tarde, também acabou por se alistar, por causa delas.

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