Escola da Noite

(Carla ScalaEjcveS) #1

natural dele. Tinha um grande valor sentimental para Wiley. Ajudara-o a passar
muitas noites longas. Servia-lhe de inspiração. Não o podia deixar simplesmente
para trás. Podia voltar a comprar as coisas que tinha na mala, se fosse necessário.
Seria uma tarefa trivial. Embora, nesse caso, tivesse de trocar os pesos outra vez
por marcos, o que seria um incómodo. Mas não podia abandonar o mapa. Além
de tudo o resto, era uma pista. Um quadrado assinalado a lápis, coçado pela
ponta do seu dedo. Matara a prostituta por menos do que isso. Portanto, tinha de
o ir buscar.
Mas mais tarde, pensou. Naquele momento, não. Só por via das dúvidas. A
polícia podia estar no andar dele. Havia uma hipótese em quinze. E não queria
ter nada que ver com depoimentos de testemunhas. Que poderia ele dizer? Não
conhecia os vizinhos. O que seria considerado esquisito. Por isso, deu meia-volta
e saiu do átrio, percorrendo o caminho para peões em direção à água, passando
pelo edifício seguinte e pelo meio dos últimos dois, até chegar a um banco
instalado junto a um guindaste em bom estado na zona das docas. Sentou-se e
foi-se deslocando discretamente até ter um campo de visão desimpedido no
sentido em que tinha vindo. Mais ou menos trezentos metros. O carro já era só
um pontinho. Logo, ele também, na perspetiva contrária. Esperou.


Dremmler fez os telefonemas no escritório do quarto andar e as pessoas a
quem ligou fizeram igualmente telefonemas, numa sucessão até uma
determinada secção da sociedade, onde se faziam os negócios, onde toda a gente
conhecia um tipo que podia arranjar algo mais barato, onde toda a gente sabia
quem estava na mó de cima ou em maus lençóis. A seguir, os telefonemas
começaram a ser retribuídos, com a cadência dos tinidos num sonar, e chegou-se
a um consenso relativamente a um tipo que nunca o iria admitir. Porque a coisa
tinha que ver com o fracasso. O tipo comprara uns terrenos nas docas a sul de St.
Georg. E ia vendê-los para a construção de apartamentos. Mas as altas instâncias
municipais preferiram apostar em St. Pauli. O homem ficou apenas com um
punhado de armazéns a cair aos pedaços. Depois de pagar uma bela maquia.

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