Ficou envergonhado.
Mas Dremmler era um chefe e, como todos os chefes, um homem com
carisma, portanto telefonou ao outro para que este lhe contasse o que se tinha
passado. E a verdade é que contou, após cinco minutos de obscurecimento e
rodeios, tudo porque tinha sido um negócio em dinheiro vivo. O gajo do
armazém estava a esconder a coisa. Tinha os credores a irem-lhe às contas
bancárias. Mas precisava de algum dinheiro para as despesas quotidianas. Por
isso, não perguntara nada. Wiley aparecera sete meses antes. Haviam-se
encontrado cara a cara. Wiley tinha um boné de basebol vermelho e a cara virada
para baixo. Mais grandes maços de notas. Mostrou-se impaciente, como se
estivesse em contagem decrescente para um plano qualquer urgente. Pagou bem
acima do valor de mercado. O homem nem pensou duas vezes.
O tipo explicou a Dremmler onde ficava o armazém. Dremmler conhecia o
sítio. Conhecia a ponte retangular. Pensou: Achaste mesmo que iam fazer
apartamentos aí? Não admira que estejas falido.
— Muito obrigado pela sua ajuda. Quando chegar o momento, os seus
serviços não serão esquecidos — afirmou.
Discutiram a possibilidade de ficar à espera no apartamento até que Wiley
voltasse para casa, mas Sinclair declarou que o depoimento de Helmsworth
obrigava a uma mudança de planos e que a carrinha de distribuição, com uma
distância grande entre os eixos e um tejadilho alto, tinha passado a ser a nova
prioridade número um. E não o próprio Wiley. Que agora era a prioridade
número dois. Por isso, Griezman ligou do telefone de Wiley e surripiou uma
viatura de vigilância ao gabinete do presidente da câmara, onde o pânico estava a
diminuir aos poucos. O tipo disse que podia estar a postos, à porta do prédio de
Wiley, dali a mais ou menos cinco minutos. Portanto, saíram do apartamento,
deixando tudo como tinham encontrado, dentro do possível, e desceram para a
rua tal como tinham subido, pelas mesmas razões. Nos dois elevadores e pelas
escadas, tudo ao mesmo tempo.