Escola da Noite

(Carla ScalaEjcveS) #1

outras duas à direita, espraiando-se como dedos. Os cais eram construções
gigantescas de granito, gastas, pretas e lodosas, ao passo que as pontes eram
novas, claras e espaçosas, desdobrando-se, como as patas de uma aranha, em
duas, quatro e por aí adiante. Uma coisa extravagante. Como um labirinto, mas
não propriamente. O município tinha gasto dinheiro.
Mas não o suficiente. A seguir às últimas esculturas, lá bem ao longe, viam-
se ervas daninhas, tijolos partidos e cachos de edifícios antigos abaulados. E,
nessa zona, as pontes pedonais eram coisas velhas e de ferro. Um panorama
tenebroso, que se estendia por vários hectares.
Havia imenso para vasculhar.
Mas era o mais lógico.
Reacher afirmou:
— Ele não iria querer estacionar do outro lado da cidade. Iria querer manter a
coisa local. E estas pontes pedonais ajudam-no. Pode ir a pé para uma centena de
armazéns ao abandono. Se calhar, até para um milhar. Aposto que metade nem
tem dono. Podia mudar-se logo para lá. Trocava as fechaduras e ficava com o
sítio para ele.
— E é aí que vamos encontrar a carrinha? — retorquiu Sinclair.
— Faria bastante sentido. Fica mesmo à mão. E quando for a altura, é uma
viagem curtinha até ao aeroporto.
Voltaram para o carro. O veículo de vigilância já tinha chegado. Era bom.
Passava despercebido. Entraram no Mercedes e saíram do complexo,
contornando a rotunda nova e regressando ao cruzamento, com os edifícios altos
em tijolo. Viraram à direita, para a estrada que Reacher já conhecia, passando
por um corpo de água, uma espécie de doca em águas profundas ou então uma
bacia, e, a seguir, viraram novamente à direita, para a passagem estreita e com
pedras arredondadas que levava à ponte de metal retangular que Reacher tinha
visto ao luar.
Do outro lado da ponte, ficavam as ruínas de uma civilização perdida. O
domínio dos estivadores, versão século dezanove. Havia ruas pavimentadas com
seixos onde caberiam à justa atrelados com aros de ferro e parelhas de cavalos.

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