viagem de autocarro. Ficara com uma sensação muito estranha. Não era bem um
temor, mas um forte pressentimento de algo. Vira os quatro pontinhos
minúsculos a sair do prédio e a parar junto ao carro. Mas, depois, tinham
começado a andar na direção dele. Lenta e ominosamente. Passando pelo prédio
do lado e seguindo. Começou a conseguir discernir os pormenores. Dois homens
e duas mulheres. Sem perceber bem como, a fitá-lo. Como se soubessem. As
mulheres eram muito pequeninas ou então os homens eram enormes. Um estava
vestido com tons verdes e o outro com tons caqui. Assim ao longe, não passava
de uma manchazinha de cor, em miniatura e com grão, mas parecia ter uma
forma volumosa. Como um blusão de ganga da Levi’s. Como o dele. Coisa que
ele já tinha visto, não há muito tempo, no parque, quando ia no autocarro. E
tinha reparado nos imbecis do bar.
Impossível.
Ele era invisível.
Não era?
Levantou-se e afastou-se. Vagarosamente, sem quaisquer preocupações. Até
desaparecer de vista. Nessa altura, apressou-se.
E, naquele momento, estava a atravessar a rua para entrar num café turco de
nível médio e dirigir-se ao telefone que se encontrava na parede. Tinha imensas
moedas. Um desperdício, quase de certeza, já que ainda era muito cedo, mas, de
repente, sentia-se nervoso. O tipo do blusão de ganga tinha-o perturbado. A fitá-
lo, como se soubesse.
Ligou para Zurique e indicou o número de código.
— Já houve algum depósito na minha conta hoje? — perguntou.
Ouviu matraquear num teclado.
Houve uma pausa.
E a resposta foi:
— Ainda não, senhor.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1