Escola da Noite

(Carla ScalaEjcveS) #1

de fundo. Pelo menos, para já. O sigilo da coisa vai adiar isso. Portanto, neste
momento, acho que não devíamos abdicar da Sinclair. Depois reconsideramos se
e quando tiver de ser.
— Entendido — retorquiu Neagley.
A empregada trouxe-lhes os pratos e começaram a comer. Oito horas da noite
em McLean, na Virgínia.


Oito horas da noite em McLean na Virgínia, eram duas horas da manhã do
dia seguinte em Hamburgo, na Alemanha. Tarde, mas o americano ainda estava
acordado. Estava deitado de costas numa cama, de olhos postos num teto que
nunca tinha visto. Tinha uma prostituta nua apoiada na curva do braço dele. O
apartamento era dela. Era limpo, arrumado e perfumado, dando a entender que a
dona tinha orgulho nele. Não era barato, mas a verdade é que ela também não.
Não havia problema. Estava prestes a tornar-se um homem muito rico. Por isso
mesmo, tinha-se justificado uma pequena comemoração. E ele gostava de
mulheres caras. Davam-lhe mais pica. Tinha gostos razoavelmente simples. O
nível de entusiasmo é que contava. E ela tinha demonstrado bastante. E depois
tinham conversado. Conversa de travesseiro, literalmente. Enroscaram-se um no
outro. Ela tinha-se interessado por ele. Fora boa ouvinte.
E ele falara demasiado.
Calculou que as prostitutas fossem melhores psicólogos do que os
verdadeiros psicólogos, capazes de perceber a diferença entre fanfarronice,
gabarolice, tretas e sonhos tresloucados. Sobrava uma pequena dose de verdade.
Não era uma verdade confessional. Era mais felicidade. Era mais uma verdade
de-quem-está-mortinho-por-contar-a-alguém. Saiu-lhe e pronto, numa onda de
excitação. Estava a sentir-se ótimo. Ela valia bem o dinheiro. Ele estava nas
nuvens. Falara-lhe do plano que tinha para comprar um rancho na Argentina.
Mais ou menos maior do que Rhode Island, dissera-lhe.
O que não queria dizer grande coisa, mas ela iria lembrar-se. E, na
Alemanha, as prostitutas não tinham medo dos polícias. Era um estado-

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